N° 0943 - A PEDRA DO BOIADOR - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA

 


Há um espaço em Algodoal onde muitas pedras falam durante as grandes marés. Este local mágico é conhecido como a Pedra do Boiador. Dizem que por ali, boia de tudo: desde grandes peixes prateados, navios fantasmas com velas esfarrapadas, até cavalos alados com crinas de fogo. Lá se ouvem os ecos de tambores, o canto distante de galos, e sussurros misteriosos que juram que ali, bem debaixo de nossos pés, reside uma das cidades encantadas e iluminadas  da ilha.

Um certo pescador, conhecido por muitos em Algodoal por sua rara habilidade em desvendar os segredos da ilha, ia todos os dias despescar a sua rede na Pedra do Boiador. Lá ele ficava por horas, não apenas recolhendo peixes, mas conversando com as princesas da pedra, seres elementais que guardavam os mistérios daquele lugar. Ele, com seu coração puro e sua alma curiosa, conseguia ver o portal que existia na cabeceira do Boiador, uma fenda sutil na realidade que ligava o mundo visível ao invisível.

Um dia, sentindo um chamado irresistível, o pescador decidiu fazer uma grande viagem por entre as pedras sussurrantes. Ele sabia que era uma jornada sem volta, um mergulho profundo nos segredos de Algodoal. Segundo alguns que o viram partir, ele não queria mais voltar para o mundo deste lado. Ele ficou maravilhado com o que existe do outro lado, um reino de beleza indescritível e sabedoria ancestral. A cidade iluminada o recebeu de braços abertos. Ruas refletiam a luz das estrelas, casas de conchas , e seres de pura energia dançavam em harmonia com a natureza. Ele conheceu as princesas da pedra em sua verdadeira forma: seres de luz com vestidos feitos de algas marinhas e coroas de pérolas azuis. Elas lhe revelaram os segredos da ilha, a história de seus ancestrais, e o propósito de sua existência.

O pescador estava extasiado, sentindo-se em casa, como se finalmente tivesse encontrado o seu lugar no mundo. Ele não conseguia imaginar voltar para a vida na vila, para a pesca árdua e as preocupações cotidianas. Mas, em meio àquele êxtase, uma das princesas, com seus olhos profundos, o chamou para um lugar à parte.

"Você é um dos escolhidos, um guardião dos segredos de Algodoal," disse ela, sua voz suave como o murmúrio das ondas. "Mas sua jornada não termina aqui. Você tem muito o que fazer nas terras daquele lado, muito a ensinar, muito a proteger. Seu povo precisa de sua sabedoria, de sua conexão com a natureza, e de sua habilidade em desvendar os mistérios da ilha. Você deve voltar e cumprir o seu destino."

As palavras da princesa tocaram o coração do pescador. Ele percebeu que, por mais tentador que fosse permanecer naquele paraíso, sua verdadeira missão era cuidar de Algodoal e de seu povo. Com um aperto no coração, ele se despediu das princesas e prometeu honrar seus ensinamentos.

Assim, o pescador retornou ao mundo que conhecia, transformado pela sua experiência. Ele passou a dedicar sua vida a proteger a Pedra do Boiador e a compartilhar sua sabedoria com aqueles que estavam dispostos a ouvir. Ele ensinou as crianças a respeitar a natureza, a ouvir o sussurro das pedras, e a ver a magia que existe em cada canto de Algodoal. Aquele pescador um dia foi embora para o seu verdadeiro mundo. E segundo alguns, ele ainda vive muito perto de nós, guardando os segredos da ilha. Dizem que ele consegue reaparecer na praia em determinados momentos especiais, quando a maré está alta e a lua cheia ilumina a Pedra do Boiador. Nesses momentos, ele se mistura com as pedras, tornando-se parte da paisagem, observando e protegendo Algodoal. E sempre que a maré sobe e as pedras falam na Pedra do Boiador, todos se lembram do pescador que viajou para o outro lado e voltou para cumprir o seu destino. 

E Algodoal, protegida por seus segredos e guiada pela sabedoria de seus guardiões, continua a prosperar, um paraíso mágico onde a realidade e a fantasia se encontram em um abraço eterno.

- E assim foi e é!


 FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius N° 0943

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