* Nº 0226 - A CASA DOS CATAVENTOS - SÉRIE: FÁBULAS DE MAYANDEUA
Em uma colina distante, onde as brisas suaves do vento pareciam sussurrar segredos antigos, erguia-se uma casa tão peculiar quanto encantada: a Casa dos Cataventos de Arco-Íris. Seu telhado, distante de qualquer convenção arquitetônica, era uma explosão de cores vibrantes, adornado com cataventos em tons diversos, cada um simbolizando uma emoção humana única. O vento, ao soprar, transformava o telhado em um espetáculo dinâmico de movimento e luz, fazendo com que a casa se tornasse uma pintura viva, sempre mutável e vibrante, com suas cores dançando em sintonia com os ventos.
Dentro da casa, vivia uma família peculiar que, ao invés de palavras, se comunicava por meio dos cataventos. Cada membro da família tinha um catavento favorito, um símbolo que carregava sua essência. Quando o membro mais jovem, com sua energia contagiante, queria expressar entusiasmo, seu catavento girava com a intensidade do vermelho, irradiando calor e alegria. Já o mais velho, com sua sabedoria serena, preferia o catavento verde, que girava suavemente, simbolizando a calma e a reflexão profunda.
O catavento azul, ao ser escolhido por alguém da casa, era a expressão da tranquilidade, enquanto o amarelo, em sua leveza dourada, indicava momentos de felicidade radiante e gratidão. As cores dos cataventos não eram apenas uma maneira de comunicar sentimentos, mas uma forma de transformar a própria energia interna em algo visível e acessível a todos. Não havia necessidade de palavras, pois cada movimento dos cataventos dizia tudo o que precisava ser dito. A casa, com seus cataventos coloridos, parecia respirar em sintonia com as emoções da família, criando uma atmosfera de harmonia perfeita.
Inicialmente, os vizinhos observavam, intrigados, essa forma inusitada de comunicação. A curiosidade logo se transformou em fascínio, e aos poucos, todos começaram a se aproximar da Casa dos Cataventos, querendo aprender a linguagem silenciosa das cores e dos ventos. As crianças da região se reuniam na varanda da casa, ansiosas para ver como os cataventos giravam, cada um representando um sentimento diferente. Elas observavam com atenção e logo começaram a associar as cores dos cataventos às próprias emoções. O catavento vermelho, tão vibrante, passou a significar alegria, e o azul profundo, serenidade.
Os adultos, que já haviam aprendido a reprimir suas emoções ao longo dos anos, também descobriram ali uma nova maneira de se expressar. Aos poucos, perceberam que as cores dos cataventos não eram apenas um reflexo de sentimentos individuais, mas uma maneira de fortalecer a empatia e a compreensão entre as pessoas. O catavento amarelo, por exemplo, passou a ser um símbolo de gratidão compartilhada, e o roxo, com suas nuances místicas, era associado a momentos de introspecção e sabedoria.
O dono da casa, um sábio ancião chamado Vento Claro, era o mestre dessa arte única. Ele acreditava que os cataventos, quando bem sintonizados com o espírito de cada um, poderiam abrir portas para uma compreensão mais profunda entre os seres humanos. Ele ensinava aos visitantes, com a calma de quem já experimentou os segredos do vento, que cada cor era uma chave para acessar um aspecto da alma. "A verdadeira magia", dizia ele, "está em permitir que nossas emoções se revelem de forma autêntica, e, ao mesmo tempo, respeitar e compreender a expressão do outro".
Vento Claro acreditava que essa comunicação colorida não apenas aproximava as pessoas, mas também criava laços indestrutíveis de empatia. Quando os cataventos giravam em uníssono, era como se toda a comunidade estivesse falando uma única linguagem, uma língua universal de compreensão mútua, onde não havia lugar para mal-entendidos ou distorções. O que antes era silenciado ou mal interpretado, agora se tornava claro como o vento que passava entre as árvores.
Com o passar do tempo, a Casa dos Cataventos de Arco-Íris se transformou em um lugar de encontro para aqueles que buscavam equilíbrio e harmonia. Era mais do que um simples refúgio; era um ponto de transformação, onde as emoções fluíam com a suavidade do vento, colorindo a vida de todos que ali chegavam. Pessoas de todas as idades e origens vieram, aprenderam a língua dos cataventos e saíram transformadas, mais conscientes de si mesmas e mais conectadas com os outros.
E assim, a Casa dos Cataventos de Arco-Íris permaneceu, um símbolo vivo da magia que nasce da interconexão entre os sentimentos humanos e a natureza. Ela não só encantava os olhos com sua explosão de cores, mas tocava as almas de todos que ali passavam, ensinando que, às vezes, a forma mais pura de comunicação não vem das palavras, mas da capacidade de sentir e entender os outros por meio da vibrante dança das cores.
Moral da história: A verdadeira comunicação vai além das palavras; ela reside na capacidade de se conectar com os outros através das emoções genuínas.
- A Vida poderia ser assim!
- Sonhando em Mayandeua...
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius N° 0226