*Nº 0923 - A SINFONIA DOS PORTAIS - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA


Nas terras encantadas de Mayandeua, a música era a magia que adornava a realidade. No coração dessa melodia estava uma banda inusitada: Kamalyn, a musicista visionária, cujos dedos dançavam sobre um banjo de casca de coco, arrancando dele notas que pareciam ter cor e cheiro; e Yguan, o percussionista de alma vibrante, cujo tambor de tronco oco era a própria pulsação ancestral da ilha. Suas canções eram adornadas pelas vozes de dois pássaros notáveis: Pipiryan, recém-chegada de seus estudos na França, com um fraseado agudo e sofisticado que surpreendia, e Bentyvius, o mestre de um timbre grave e contagiante, capaz de fazer até as pedras cantarem.

Juntos, na Praia do Ensaio, eles não apenas tocavam, eles harmonizavam as ilhas. A cada acorde apaixonado de Kamalyn, a cada batida poderosa de Yguan, o ar adensava-se com uma energia palpável. Em um entardecer particularmente inspirado, enquanto a canção atingia um clímax de pura harmonia, uma antiga pedra coberta de musgo, até então ignorada, começou a pulsar com uma luz azulada.

"Mon Dieu!" trincheirou Pipiryan, sua voz elegante tingida de espanto. "A pedra... ela está vivante!"

Um zumbido suave preencheu o ar e a face da rocha se dissolveu num portal cintilante, revelando um vislumbre de um mundo submerso e luminoso. A música deles não era mais apenas uma canção; era uma chave. Impelidos por uma curiosidade que era também um chamado, os quatro amigos atravessaram uma grande luminosidade.

Eles emergiram num silêncio líquido, onde cardumes cintilantes dançavam entre corais que emitiam uma luz própria. Ali, foram recebidos por Tura, a Tartaruga Anciã, cujos seus olhos  continham a história de todas as marés daquelas águas correntes. Ela era a guardiã daquele novo Portal de Maya, que conduzia a reinos diversos.

"Sua melodia ecoou até as profundezas, músicos da superfície", disse Tura, sua voz calma como o fundo do oceano. Ao lado de Tura flutuava Lume, um Peixe-Lanterna que se comunicava através de poemas de luz viva. Fascinado pela música, que despertara a alegria esquecida de seu povo, ele decidiu se juntar à banda, seu corpo luminoso adicionando um brilho mágico à expedição.

Com a bênção de Tura e a luz de Lume para guiá-los, o grupo atravessou o portal seguinte e se viu em uma trilha. Cipós grossos como serpentes adormecidas pendiam de árvores colossais, cujas flores desabrochavam em cores impossíveis. Foi ali que encontraram Loin uma espécie de macaco com preguiça, um ser de agilidade e alegria contagiantes. Atraído pelo ritmo, ele saltou dos galhos e, com uma risada esperta, começou a batucar em troncos ocos com pedras lisas, criando uma percussão engenhosa e selvagem que se entrelaçou perfeitamente uma nova  melodia no mágico ambiente.

A banda, agora mais completa do que nunca, seguiu trilha adentro, rumo ao desconhecido. A cada passo, a música se transformava, absorvendo os sons da floresta, os cheiros das flores exóticas e a energia vibrante daquele lugar. De repente, a trilha se abriu em um claro onde uma árvore gigantesca se erguia, suas raízes mergulhando profundamente na terra e seus galhos alcançando o céu. No tronco da árvore, um rosto entalhado em madeira sorria gentilmente.

"Bem-vindos, viajantes musicais," disse a árvore, sua voz um sussurro suave como o vento. "Eu sou a Guardiã das Canções Esquecidas de Maya" . Sua música despertou algo adormecido nas ilhas,  e agora vocês devem seguir em frente para restaurar a harmonia em todos os reinos."

A Guardiã explicou que uma sombra havia se espalhado pelos reinos de Mayandeua, silenciando as canções e apagando a alegria. Apenas a música pura e verdadeira, como a que a banda de Kamalyn criava, poderia dissipar essa sombra e restaurar o equilíbrio. Para isso, eles precisariam encontrar as três Canções Sagradas, perdidas em diferentes reinos.

A primeira Canção Sagrada estava escondida no Reino das Águas Eternas, lar de sereias e criaturas marinhas mágicas. A segunda, no Reino das Florestas Falantes, habitado por espíritos da natureza e animais falantes. E a terceira, no Reino das Montanhas das Pedras Choronas, onde viviam os gigantes de pedra e os dragões adormecidos.

Com a missão em mãos, a banda se preparou para a jornada. Kamalyn afinou seu banjo, Yguan lustrou seu tambor, Pipiryan e Bentyvius aqueceram suas vozes, Lume intensificou seu brilho e Loin afiou suas pedras de percussão. Juntos, eles se lançaram na aventura, confiantes de que a música seria seu guia e sua arma contra a sombra que ameaçava Mayandeua.

E assim, a banda inusitada de Mayandeua, liderada pela música e pela amizade, partiu em busca das Canções Sagradas, dispostos a enfrentar qualquer desafio para restaurar a harmonia e a alegria em todos os reinos. Sua jornada seria longa e perigosa, mas a música em seus corações era mais forte do que qualquer obstáculo. 

E assim os amigos músicos seguiram o seu destino para enfrentar... mas isso será uma nova história que será contada por Primolius.

- Echa mundo de aventuras!


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius N° 0923

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