* Nº 0190 - O VOO DA IMAGINAÇÃO - SÉRIE: FÁBULAS DE MAYANDEUA
À beira de um lago, onde o azul do céu se confundia com o espelho d'água, vivia Saltyus, um sapinho de espírito inquieto. Seus irmãos se contentavam com a rotina de caçar insetos e entoar seus coaxares noturnos, mas o coração do sapo palpitava por um desejo incomum: ele ansiava por voar.
Um dia, a contemplação das aves que gracejavam no céu azul despertou nele uma decisão firme. "Preciso descobrir como!", exclamou, abandonando a segurança das margens do lago. Sua primeira busca o levou a Mayana, uma árvore anciã, cujas raízes profundas testemunhavam séculos de histórias. Saltyus compartilhou seu sonho, mas Mayana, com a sabedoria de seus galhos, apenas os balançou lentamente. "Pequeno sapo," disse com a voz rouca do vento, "a natureza dos sapos é saltar, não planar. Aceita o teu destino."
De coração pesado, ele seguiu para o Furo do Mamed, um canal estreito onde as águas sussurrantes guardavam segredos. Ele interrogou as correntes, buscando uma resposta para seu anseio de voar, mas as águas, em seu eterno fluir, apenas levaram suas palavras sem oferecer consolo. Sua jornada o conduziu à Pedra Chorona, uma rocha umedecida por uma lágrima constante. Saltyus confiou sua história à pedra fria, esperando encontrar uma esperança. A Pedra Chorona, em seu pranto incessante, apenas deixou cair mais uma gota, como a murmurar: "Certos desejos são como lágrimas, escorrem sem jamais se concretizarem."
Mas Saltyus era um sapinho teimoso. Se a terra não lhe oferecia asas, talvez o vasto oceano pudesse ser mais generoso. Com um salto determinado, alcançou a praia e, acolhido por uma onda suave, aventurou-se no mar. Ali, seus olhos se maravilharam com a visão de uma elegante arraia deslizando pelas profundezas. Com uma cortesia singela, o sapinho pediu permissão para viajar em suas costas. A jornada foi uma aventura inesquecível! Conheceram a Vila de Camboinha e a ventilada Fortalezinha, lugares repletos de sons e cores. Durante o percurso, Saltyus não perdia de vista as garças que planavam no céu, seu desejo de voar cada vez mais forte.
Ao se despedir de sua gentil amiga arraia, ele encontrou-se perto de uma trilha misteriosa, que se perdia na mata. Movido pela curiosidade, embrenhou-se por ela e logo avistou uma cabana peculiar, adornada com ervas e luzes cintilantes. Era a morada da Feiticeira da Trilha Encantada. A feiticeira, com olhos que faiscavam como estrelas noturnas, escutou com atenção o anseio daquele vivente. Um sorriso enigmático curvou seus lábios quando disse: "Pequeno sapo, o verdadeiro voo não depende de asas, mas da força da imaginação. Acredita que podes voar, sente a leveza em tua mente, e o céu te receberá."
Saltyus estava perplexo. Como poderia o simples pensar levá-lo aos céus? A feiticeira o instruiu a fechar os olhos, a visualizar suas patas deixando o chão, seu corpo tornando-se leve como uma pena, e o vento o embalando suavemente para as alturas. Ele obedeceu, concentrando-se com toda a sua vontade, imaginando-se planar acima das copas das árvores, sentindo a carícia da brisa em sua pele. No início, nada aconteceu, mas Saltyus não se rendeu. Praticou incessantemente, com a imagem do céu gravada em sua mente.
E então, um dia, enquanto seu pensamento no voo era mais intenso do que nunca, uma leve vibração percorreu suas patas. Olhou para baixo e, com espanto, percebeu que estava alguns centímetros acima da terra! A cada pensamento mais forte, a cada imagem mais clara, ele ascendia mais e mais.
Com uma alegria que transbordava, ele finalmente aprendeu a voar, impulsionado pelo poder de sua própria mente. Planou sobre a velha Mayana, sobre o vasto oceano, deixando para trás a descrença dos outros sapos. Sua incrível jornada o levou a um lugar mágico, além de sua mais ousada fantasia: a Lua dos Sapos Encantados. Lá, outros sapos como ele, que ousaram acreditar na força de seus sonhos, voavam entre crateras brilhantes e lagoas de luz prateada.
Saltyus encontrou seu lar na Lua Encantada, onde a liberdade de voar era a sua realidade, explorando um universo de maravilhas. Jamais esqueceu sua aventura e a valiosa lição da feiticeira: as asas mais poderosas são aquelas que nascem da crença inabalável em nossos próprios sonhos. E assim, o sapinho que ansiava voar provou que, com a força do pensamento e a coragem de desafiar o impossível, os limites podem ser apenas construções da nossa imaginação.
A moral da história: É que a força da crença e da imaginação pode superar as limitações aparentes e nos levar a alcançar o que parece impossível.
FIM
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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0190