Segundo a aflita mensageira, a própria princesa havia sentido a energia do anel irradiando de algum ponto no interior da ilha, precisamente na Trilha Encantada, não muito longe da pacata vila de Nazaré. O Saci, curioso e sentindo a importância do objeto perdido, prontificou-se a ajudar.
Com um salto ágil, sua única perna impulsionando-o pela lama e pelas raízes, o Saci do Mangue deixou a familiar umidade em direção à trilha. Os pequenos habitantes da mata, iguanas, macacos e pássaros, cochichavam em suas passagens apressadas. Sim, eles se lembravam de um brilho incomum na trilha há alguns dias. E sussurravam sobre uma figura sombria, uma feiticeira conhecida por suas artes obscuras, que havia encontrado o objeto brilhante.
Os bichinhos da trilha guiaram o Saci até um ponto específico: um igarapé de águas incrivelmente cristalinas que havia na mata. "Ela jogou lá", narrou um pequeno beija-flor, indicando com o bico a superfície lisa da água. "A feiticeira... ela não gostava do brilho."
O Saci observou o igarapé. A água parecia calma, mas havia algo de diferente ali, uma aura sutil que ele podia sentir com sua magia ancestral. Sem hesitar, mergulhou nas águas frescas, revirando o leito com suas mãos ágeis. Encontrou seixos coloridos, folhas secas e pequenos peixes assustados, mas do anel, nem sinal. Emergindo do igarapé, encharcado mas persistente, o Saci franziu o cenho. O anel não estava ali. Mas ele podia sentir, mesmo sem vê-lo, uma leve pulsação mágica emanando das profundezas da água. Era como se a magia do anel estivesse adormecida, abafada pelas águas encantadas do igarapé.
Com um último olhar para o local onde o anel deveria estar, o Saci do Mangue sacudiu a água de seu gorro vermelho. O anel estava ali, de alguma forma, mas seu brilho vibrante havia desaparecido, substituído por uma opacidade intrigante. "Este anel...", murmurou para si mesmo, sentindo a superfície fria e inerte do metal invisível em suas mãos imaginárias, "...está sem vida. Sua magia está selada."
A resposta para restaurar o brilho do anel, ele pressentiu, não estava mais naquele mundo. Uma nova magia seria necessária, uma energia que só poderia ser alcançada através dos portais que ligavam o manguezal a outros reinos, a outras dimensões onde a magia pulsava em sua forma mais pura.
O Saci do Mangue, guardião do manguezal e agora inesperado detetive de um tesouro marinho, sabia que sua jornada estava apenas começando. O mistério do anel perdido e a chave para restaurar seu poder o chamavam para além dos limites da ilha, rumo a um futuro incerto e cheio de novas aventuras.
E assim o Saci do Mangue narrou esta história para Primolius....
FIM
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Projeto Musical e Literário Primolius N°0193