* N° 0907 - O CARONA NO CAOS URBANO - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA - JÁ EM POCKET-ZINE
Nas ruas movimentadas de uma grande cidade, onde a pressa é a regra e os destinos se cruzam sem se tocar, cada passo é uma jornada e cada semáforo é um breve sopro de ordem no caos cotidiano. A multidão avança apressada, traçando caminhos invisíveis no asfalto, como se cada pessoa estivesse envolta em seu próprio universo particular. No meio desse turbilhão de pernas e passos apressados, uma pequena formiga surge como protagonista de uma história improvável.
Pequena, mas determinada, a formiga avança corajosamente pelo chão, desafiando o labirinto de pés que se movem ao seu redor. Cada passo é uma demonstração de coragem, seu corpo minúsculo deslizando por entre as rachaduras da calçada e os espaços apertados entre os sapatos dos transeuntes. Ela sabe para onde quer ir, e nada – nem mesmo o caos da cidade – a impedirá de chegar ao outro lado da rua.
Enquanto o semáforo pisca no amarelo, oferecendo um intervalo fugaz no fluxo de carros e motos, a formiga percebe uma chance. Suas antenas se erguem para o ar, em busca de uma oportunidade, como se captassem sinais invisíveis no vento urbano. Ela busca uma carona, um gesto improvável de solidariedade em meio ao mar de pressa e indiferença que a rodeia. E então, algo extraordinário acontece. Um observador atento, alguém que normalmente passaria despercebido na multidão, percebe a pequena viajante. Em um gesto de delicada empatia, ele estende a mão, oferecendo à formiga um abrigo seguro em sua palma. Com cuidado, ele a transporta para o outro lado da rua, protegendo-a do frenesi de passos e rodas que poderiam interromper sua jornada.
Naquele breve instante, duas vidas – uma humana e outra minúscula – se conectam, e uma pequena aventura ganha um significado profundo. A formiga, em sua ousadia, nos lembra que, mesmo nos espaços mais caóticos e apressados, ainda existe espaço para gestos de gentileza. A cidade, com toda a sua impessoalidade, é capaz de abrigar atos de empatia e solidariedade que transformam pequenas histórias em grandes lições.
Enquanto o semáforo volta ao verde e a multidão retoma sua marcha acelerada, a formiga segue sua jornada, agora do outro lado da rua. Seu pequeno feito é um lembrete de que, às vezes, a vida nos oferece momentos para desacelerar e estender a mão ao outro – mesmo que esse outro seja uma simples formiga. A aventura dela é um símbolo da coragem necessária para buscar ajuda e da compaixão que reside em gestos inesperados.
Muitos continuam atravessando a rua...
- Prefiro atravessar o mar....
- Mayandeua há de estar lá! (Pensa a formiga)
- E está!
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0907