* N° 0903 - O ANEL DE BUTIJA - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA - JÁ EM POCKET - ZINE
No vilarejo, situado à beira do mangue, foi encontrado um anel. Não era apenas uma joia cintilante de ouro e prata; era o coração pulsante de histórias locais. As histórias que o cercavam eram tantas quanto os mangueiros que pertenciam a vila, e cada morador carregava um fragmento dessa tradição como parte de sua identidade. Dizia-se que o anel havia sido forjado pelos antigos religiosos que estiveram na ilha, estes, desapareceram. Há relatos que eram homens muito altos e que os mesmos viviam no mundo visível e o invisível e sempre caminhavam juntos.
A história mais difundida contava que o anel fora moldado não só para embelezar, mas para proteger. Ele guardava em suas entranhas a essência das botijas mágicas – vasos místicos enterrados em locais secretos no coração da ilha. Estas botijas, segundo as histórias, continham riquezas fabulosas, mais do que ouro, elas abrigavam segredos e bênçãos antigas, que só podiam ser acessadas por aqueles que possuíam dons muito especiais e que poucos conheciam quaisseriam estes segredos.
O anel, carregava consigo mais do que o peso de seus metais preciosos. Para quem o usava, ele representava uma ligação direta com as criaturas místicas que habitavam os Portais da ilha. Fadas, duendes, e espíritos antigos – todos se curvavam ao poder do anel e reconheciam no portador um protetor das leis invisíveis que governavam aquele recanto de mundo. Durante o dia, o anel parecia uma peça comum, embora belíssima, mas à noite, especialmente nas noites sem lua, ele ganhava um brilho suave, como se absorvesse a luz de estrelas de muitas cores.
No entanto, aquele anel, também trazia uma responsabilidade imensa. Não era dado a qualquer um. O anel escolhia seu portador com base em critérios que ninguém além dos Encantados sabiam. Alguns diziam que o escolhido precisava ser capaz de ouvir as vozes que falavam através do vento e dos lagos da ilha. Outros acreditavam que o anel testava a coragem do portador, confrontando-o com desafios, tanto físicos quanto espirituais. Aqueles que falhavam em honrar o poder do anel viam-se afastados de suas bênçãos, e a mata de Maya, outrora amiga, tornava-se um lugar misterioso.
Além de muitas histórias, havia rumores entre os mais velhos de que o anel, em tempos de grande necessidade, poderia guiar seu portador até uma botija real, uma dessas urnas mágicas escondidas na ilha de Myandeua/Algodoal . Mas essas buscas eram raras e perigosas. Nem todos que tentaram seguir o chamado do anel voltaram para contar a história, e os que voltaram, traziam consigo não apenas riquezas, mas um entendimento profundo sobre os segredos da natureza. E stes, passavam a viver sozinhos na grande ilha, sempre, longe do barulho de das pessoas. Aquele anel, portanto, não era apenas uma joia ou um símbolo. Ele era um portal, uma chave para os mistérios da ilha de Maya e da vida, um lembrete de que o mundo visível é apenas uma camada fina sobre algo muito mais vasto e desconhecido. Nas vilas, todos sabiam que a mata e os mangais tinham suas leis, e quem usava o anel precisava entender que estava se comprometendo a honrar essas leis, mantendo o equilíbrio entre o homem e a natureza, entre o mundo concreto e o reino dos Portais ao redor da ilha..
Assim, o anel permanece por séculos como o maior tesouro deste mundo invisível. Ele é a ponte entre o ordinário e o extraordinário, lembrando a todos que, em cada folha, cada pedra e cada estrela, havia um toque de magia esperando para ser descoberto.
- E assim a ilha de Maya avança através dos tempos!
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0903