* N° 0896 - TRILHAS DA LUA DE ALGODOAL - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA

 


Era uma noite de verão, daquelas que deixam o ar envolto em um manto de mistério, quando Yda e Pytty decidiram seguir uma trilha incomum à beira-mar. O céu estava limpo, e a lua, imensa, derramava sua luz prateada sobre as ondas que chegavam suavemente a areia. Recém-casados, com uma vida tranquila de proprietários de padaria em uma cidadezinha do interior, eles escolheram a ilha de Algodoal para sua lua de mel, atraídos pela tranquilidade e o os mitos que envolviam aquela vila remota.

Mal sabiam eles que essa viagem os levaria a uma jornada muito além do esperado.

No primeiro dia, o lugar parecia exatamente como o esperado: pacato, com ruas estreitas entrelaçadas e um mar de águas cristalinas. O sol pintava o céu com tons dourados ao amanhecer, e à noite, as estrelas pareciam mais próximas, quase tangíveis. Eles caminharam de mãos dadas pelas enseadas escondidas, e à noite, jantavam à luz de velas, celebrando o amor que os unia. Mas, à medida que os dias passavam, algo de inexplicável começava a se manifestar.

Os moradores falavam, com um sussurro que mal ultrapassava os lábios, sobre fenômenos estranhos que aconteciam naquelas praias desertas. Luzes que piscavam ao longe, sombras que pareciam dançar nas dunas, e ruídos vindos das profundezas do mar. Alguns diziam ser os "filhos da Lua", entidades misteriosas que há séculos habitavam o lugar, guardiões de um segredo tão antigo quanto a Terra. Outros sussurravam sobre visitantes do céu, que desde tempos imemoriais escolheram aquelas terras como ponto de encontro.

Certa noite, enquanto passeavam pela praia, Yda e Pytty sentiram algo diferente no ar. O som das ondas parecia distante, abafado, e o vento, antes suave, agora carregava um murmúrio estranho. Foi quando avistaram a primeira sombra. Ela não se movia como uma pessoa, mas também não era apenas uma ilusão do luar. A forma fugidia dançava sobre a areia, como se os convidasse a segui-la.

Curiosos e envolvidos por um sentimento de excitação, eles seguiram a sombra. A cada passo, o ar se tornava mais denso, o silêncio mais profundo, e a lua parecia brilhar mais intensamente, como se observasse seus movimentos. O caminho os levou por entre as dunas, até uma parte isolada da praia que não tinham notado antes. Ali, entre as pedras desgastadas pela maré, uma fenda se abriu no chão – uma entrada escondida, que se revelava apenas aos olhos daqueles que ousavam enxergar além do óbvio.

Ao se aproximarem, ouviram o som de uma canção antiga, quase como um lamento, que se mesclava com o som do vento. Com o coração acelerado, Yda e Pytty entraram na abertura. O que encontraram lá dentro desafia qualquer descrição comum: no subsolo arenoso, um círculo de pedras brilhava com uma luz fria e azulada, e ao centro, uma escultura antiga, com símbolos que não reconheciam, parecia pulsar de vida.

Foi então que uma luz forte, vinda do céu, iluminou o local. Yda olhou para cima e viu algo inacreditável: um feixe de luz descia das estrelas, como se conectasse aquele ponto da Terra com algo muito além do que podiam imaginar. Um zumbido suave ecoou ao redor, e a sombra, que antes os guiara, agora se revelava mais claramente: uma figura alta e esguia, com olhos que brilhavam como a própria lua. Não era humana, mas sua presença não causava medo, e sim uma estranha sensação de paz.

"Os portais estão abertos novamente", disse a figura, com uma voz que parecia reverberar em suas mentes. "Vocês são os escolhidos para ver o que está além."

Sem hesitar, Yda e Pytty, com o coração entrelaçado pela curiosidade e pelo amor que compartilhavam, seguiram a figura misteriosa através do círculo de pedras. À medida que atravessavam o portal, sentiram-se transportados para um lugar diferente, onde o tempo parecia não existir, e o céu noturno estava preenchido por constelações nunca antes vistas. Era como se estivessem em outro mundo, onde as lendas da Terra se misturavam com as estrelas e com seres de além.

Naquele momento, compreenderam que as histórias de antigos deuses e extraterrestres, os mitos contados por pescadores e as luzes inexplicáveis que haviam visto, eram, na verdade, parte de algo muito maior. As praias daquela vila escondiam portais para o desconhecido, e eles, agora, faziam parte dessa história ancestral.

E assim, lado a lado, Yda e Pytty se preparavam para uma nova jornada, muito além do amor e da terra que conheciam. Eles estavam prontos para desvendar os mistérios que sempre estiveram escondidos, aguardando por aqueles que ousassem seguir as trilhas da lua, onde o real e o mítico se encontravam.

- Dizem que próximo a Barraca do Coco, existe um Portal que nas noites  de maré grande ele aparece nas direção das pedras, além do mar aberto.

- Trilhas destas ilhas,,,,  


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0896


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