* N° 0891 - CONVERSAS NA REDE DE DORMIR - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA
Assim começavam as histórias: Quando eu cresço, me espalho de tal forma que deixo de ser vista, mas minha presença é sentida. Trago uma algazarra silenciosa, onde alguns tropeçam sem sequer perceberem o que os fez cair. Sou tão grande, tão vasta, que pareço um gigante invisível, e na minha imensidão, tudo fica em desordem, uma verdadeira confusão. As pessoas caminham cautelosas, temendo o que não podem enxergar, enquanto os mais desatentos acabam esbarrando em mim, como se eu fosse um leitão corpulento que, apesar de grande, não se mostra. Quando me aproximo, o ambiente treme e os corações aceleram. Os pequenos, esses, se apertam uns aos outros, como grãos de feijão dentro de um saco que se sacode com a tensão no ar.
Sou eu, a escuridão que se expande de maneira sorrateira. Quando chego, a floresta se transforma. Os grilos começam seu concerto de "cri-cri", e suas notas ecoam como um lembrete do silêncio profundo que imponho. As aves, que durante o dia são as rainhas do céu, agora ficam imóveis, como se estivessem sob meu feitiço. O vento corre ligeiro entre as folhas, mas até ele parece não me perturbar, respeitando meu reinado sobre a noite.
E assim sou eu: a dona da escuridão. Sou a soberana silenciosa de cada canto e sombra, a presença que não precisa ser vista para ser sentida. Sou o mistério que confunde, o espaço entre o conhecido e o desconhecido. Meu poder está no que escondo, naquilo que apenas se adivinha e, ainda assim, todos temem. Eu sou o que antecede o descanso, mas também o que pode despertar inquietação. Sou a pausa antes do amanhecer, e na minha vastidão, tudo pode acontecer – ou nada, e essa é a verdadeira incógnita.
- Histórias de pé de rede!
FIM
Copyright de Britto, 2023
Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0891