*Nº 0874 - O CACURI ENCANTADO DE CAMBOINHA - CONTO FANTÁSTICO - JÁ EM POCKET - ZINE

 


Nas margens das águas de Camboinha, em Mayandeua, influenciado pelas marés atlânticas, havia um cacuri muito especial. Este cacuri, uma tapagem feita de talas e varas, não era como os outros. Erguido na beirada, em um ponto onde a areia se misturava com pedras, ele tinha uma história antiga associada a ele. Era dito que o cacuri era encantado, pois aquele espaço onde ele se encontrava havia sido residência dos antigos habitantes que ali viveram, muito antes de conhecermos os fatos históricos da colonização do nosso estado.

Os pescadores da vila contavam histórias sobre o cacuri, onde nascia o sol. Diziam que, nas primeiras horas do dia, quando o sol despontava no horizonte, uma luz mágica envolvia o cacuri, transformando-o em um portal para um mundo encantado. Muitos não acreditavam, mas outros juravam de pé junto que haviam visto coisas extraordinárias ao despescá-lo durante a baixa-mar. Entre os pescadores estava Tylenus, um jovem corajoso e curioso. Ele ouvia as histórias com fascínio, desejando ver a magia com seus próprios olhos. Decidiu que, na próxima baixa-mar, iria ao cacuri ao amanhecer, quando a luz do sol nascente ainda tocava a estrutura de varas.

Na noite anterior à sua expedição, Tylenus mal conseguiu dormir, ansioso pelo que poderia descobrir. Ao primeiro sinal de luz no céu, ele saiu de sua barraca de palha e correu para a margem do rio. Quando chegou ao cacuri, o sol estava apenas começando a emergir, lançando raios dourados sobre a água. Enquanto o rapaz observava, algo incrível aconteceu. A luz do sol parecia se concentrar no cacuri, iluminando-o de uma forma que nunca havia visto antes. De repente, as varas e talas começaram a brilhar com um brilho suave, e uma névoa mágica, como um sereno, surgiu ao redor.

Com o coração acelerado, Tylenus se aproximou cautelosamente. Ao tocar a névoa, foi transportado para um lugar que parecia estar fora do tempo e do espaço. Ele se encontrou em uma praia de areia dourada, com águas cristalinas e uma vegetação exuberante. Peixes coloridos nadavam nas águas tranquilas, e aves exóticas cantavam em grandes árvores.

No centro desta praia encantada, o jovem encontrou um ser misterioso, um homem com longos cabelos de algas e olhos brilhantes como pérolas. Ele se apresentou como Ioru, o guardião do cacuri encantado.

"Ioru," disse Tylenus, "o que é este lugar?"

"Este é o reino onde a natureza e a magia se encontram," respondeu o Encantado com um sorriso. "O cacuri é nosso portal, e apenas os puros de coração podem atravessá-lo. Tu foste escolhido para conhecer este segredo."

Ioru explicou que o cacuri encantado protegia o equilíbrio entre os mundos. Durante a baixa-mar, quando as marés se retiravam, a passagem entre os reinos se abria. Ele ensinou a Tylenus como respeitar e preservar a magia do cacuri, para que ele pudesse continuar trazendo harmonia ao rio e às marés. Tylenus passou o que parecia ser horas naquele mundo maravilhoso, aprendendo os segredos da natureza e da magia. Quando a maré começou a subir novamente, Ioru disse que era hora de ele voltar.

"Leve este conhecimento com você," disse ele. "Use-o para proteger nosso mundo e o seu."

Com um toque suave, Tylenus foi transportado de volta ao cacuri. O sol estava agora alto no céu, e a magia da névoa havia desaparecido. No entanto, ele sabia que o que havia vivenciado era real. A partir daquele dia, Tylenus se tornou o cuidador do cacuri onde nascia o sol. E, embora muitos ainda considerassem as histórias como apenas mitos, o rapaz sabia a verdade – que em algum lugar de Mayandeua, entre o fluxo e o refluxo das marés, havia um portal para um mundo encantado. 

- E assim mais um Portal foi descoberto na Ilha!


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0874


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