* Nº 0854 - SOB AS ESTRELAS - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA

 


Quando a noite desce sobre a cidade, as estrelas espalham seu brilho suave, e o silêncio envolve cada rua e beco. As sombras escondem rostos desconhecidos, revelados apenas pelo tímido brilho das luas esparsas. A cidade, a praia e o mar formam um eterno laço nos pensamentos daqueles que guardam memórias esquecidas, ecoando pelos camarins agora vazios. À medida que a noite avança, as paredes dos quartos se tornam sentinelas do silêncio, mantendo os sons externos e nossas próprias vozes afastados da quietude.

A chegada da noite é inevitável, mas seus tentáculos não alcançam o mar. Lá fora, os murmúrios dos que perambulam pedem por mais noites em suas vidas, vidas que oscilam entre a neblina e a ocasional visita de um distante sol. Nessa cidade à beira-mar, onde as estrelas parecem mais próximas, os habitantes compreendem bem o contraste entre luz e escuridão. Durante o dia, o sol resplandece nas ondas que beijam a areia, mas à noite, tudo é envolto em mistério e introspecção. As ruas, movimentadas por turistas e moradores durante o dia, transformam-se em cenários de uma tranquilidade quase tangível à noite, quebrada apenas pelo som dos passos de algum terrestre solitário. É como se a cidade inteira esperasse por um novo amanhecer, um recomeço. 

À beira do mar, a brisa noturna carrega sussurros de almas ansiando por  noites, momentos de reflexão. Eles caminham pela areia, sentindo a umidade fria sob os pés, olhando para o horizonte onde mar e céu se encontram em um abraço silencioso. Buscam mais noites, pois na escuridão encontram uma liberdade singular, uma pausa do sol implacável. 

A cidade, em sua vigília silenciosa, esconde segredos nos cantos escuros, segredos que apenas a noite conhece e que o dia se recusa a revelar. As estrelas, com seu brilho sereno, observam tudo de cima, imperturbáveis e eternas. Elas testemunham os anseios humanos, suas esperanças e medos, e em seu brilho distante, oferecem um consolo mudo.

E assim, a noite avança, sem pressa, sem destino. Nas estradas e rostos, nas praias e mares,  a vida segue seu curso. E no coração de cada ser, a eterna busca por mais um pouco de noite, mais um pouco de tempo para sonhar, refletir, simplesmente existir. Os habitantes dessa cidade sabem que, quando o dia retornar com seu sol distante, trará consigo a realidade implacável. Mas, por agora, aproveitam cada momento da noite, cada estrela cadente, cada sussurro do mar, guardando tudo como um tesouro precioso, um lembrete de que a vida continua.

- Roteiro de marés humanas! 


FIM

Copyright de Britto, 2022

Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0854

Mensagens populares