*N° 0807 - PÉS DESCALÇOS NA AREIA - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA



Na vastidão da planície, onde o horizonte se estende até encontrar o céu, a seca  desenha sua sina nas linhas da terra ressequida. É uma dança cruel, um espetáculo de desolação que a natureza teima em encenar, ano após ano, sem piedade pelos que dependem dela para sobreviver. O sol escaldante, impiedoso, é o maestro dessa orquestra. Suas notas ardentes queimam a pele, ressecam os lábios e deixam as gargantas áridas como o solo que se estende à vista. Sob seus raios inclementes, o plantio de macaxeira, outrora orgulho da colheita, agora se curva em agonia, suas folhas murchas como mãos que imploram por um alívio que não chega.

E as mãos, ah, as mãos calejadas dos que labutam na terra. São testemunhas silenciosas desse embate entre o homem e a natureza, marcadas pelo trabalho árduo, pela luta diária por um punhado de esperança em meio ao deserto que se ergue ao redor. Essas mãos, outrora fortes e ágeis, agora parecem pesadas sob o peso da desesperança, da incerteza do que o amanhã trará. Os  peixes, parecem que também estão indo embora. Mas mesmo diante da seca, há uma persistência silenciosa, uma resistência teimosa que se recusa a se curvar completamente. Nos olhos dos que enfrentam a aridez, um desejo ardente de ver a plantação se erguer novamente, de sentir a chuva benfazeja a acariciar a terra ressequida. Afinal, os lagos devem encher na ilha.

No entanto, além da seca, outras aflições.  Ao redor das águas que margeavam a planície, a poluição de alguns territórios  das ilhas contaminavam o ar e envenenava muitos lagos formados pelas chuvas do inverno que passou. E assim com a  perseverança, a vida seguia seu curso em algúm lugar distante.

- Currais sem peixes!  

- Até quando? 


FIM

Copyright de Britto, 2022 – Pocket Zine

Projeto Musical e Literário Primolius N° 0807

Mensagens populares