*Nº 0822 - O CANTO DA ONÇA - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA
Nas profundezas do oceano, sob as águas cristalinas que rodeavam a paradisíaca ilha de Algodoal, desenrolava-se uma história tão antiga quanto a própria terra. Era um lugar onde a natureza reinava soberana, onde as matas exuberantes e as praias intocadas eram o lar de uma variedade impressionante de criaturas, incluindo uma família de onças majestosas. No coração dessa terra abençoada, habitava Maya, uma guerreira destemida cujo espírito selvagem ecoava a força das árvores e a ferocidade das onças que compartilhavam seu domínio. Com ela, uma incomum amizade florescia: Zye, uma onça encantada pela mágica da sereia Princesa.
A história de Zye era tão misteriosa quanto fascinante. Segundo os relatos dos encantados da ilha, ela fora encontrada ainda filhote dentro de uma grande casca de árvore, como se o próprio vento tivesse soprado a pequena felina para os braços da magia. A Curupira e outros seres encantados, reconhecendo a singularidade da situação, permitiram que a sereia Princesa guiasse o destino da jovem onça, conscientes dos perigos que a aguardavam caso os Homens de Fora a descobrissem. Assim, sob a orientação da sereia, Zye foi levada para o fundo do mar, onde mergulhou em um mundo de mistérios e maravilhas. Lá, entre corais e cardumes coloridos, Zye encontrou muitos mestres: criaturas marinhas sábias e ancestrais que compartilharam com ela os segredos das águas e das matas .
Enquanto crescia e se fortalecia, Zye desenvolveu um profundo respeito pela harmonia entre os reinos da terra e do mar, tornando-se uma guardiã dos ecossistemas que compartilhava. E foi durante uma dessas jornadas submarinas que ela cruzou o caminho de Maya, a filha da grande Mayandeua, protetora das ilhas de fora. No encontro entre as duas almas corajosas, uma conexão instantânea se estabeleceu, unindo o espírito guerreiro de Maya à sabedoria serena de Zye. Juntas, elas se tornaram guardiãs da ilha de Algodoal, protegendo seus segredos e preservando sua magia para as gerações futuras. Dizem que Zye, a onça encantada, encontrou seu lar em Algodoal dentro dos confins de uma majestosa árvore, cujas raízes se entrelaçavam com a areia das praias e cujos galhos se estendiam em direção ao mar, como braços acolhedores da natureza. Ali, no coração da ilha, ela repousava serena, guardiã silenciosa dos segredos daquele lugar encantado.
Em épocas de grande chuva e trovoadas, quando o céu se iluminava com os raios e o trovão ecoava pelas dunas, os moradores sussurravam sobre o misterioso urro que ecoava da grande árvore. Diziam que era Zye, a onça encantada, que, em sua forma imponente, saudava a tempestade com um rugido que ecoava pela ilha, lembrando a todos de sua presença vigilante. Mas era nas noites de luas escuras que Zye mostrava seu verdadeiro espírito. Nessas noites, quando a escuridão envolvia a ilha em seu manto sombrio, ela emergia de sua morada na árvore e seguia silenciosamente para a praia da Princesa, onde as areias se estendiam até encontrar as águas tranquilas do grande lago. Lá, sob o brilho suave das estrelas, Zye caminhava com graciosidade, suas patas deixando pegadas profundas na areia enquanto ela seguia em direção ao lago. E lá, na serenidade da noite, ela se reunia com sua protetora, a sereia Princesa, cujo canto suave e melodioso ecoava pelas margens do lago, preenchendo o ar com uma sensação de paz e magia.
Juntas, sob o manto da noite, Zye e Princesa direcionavam os seus momentos de comunhão e conexão, lembrando-se de sua missão compartilhada de proteger e preservar a beleza única da ilha de Algodoal. E quando o sol começava a surgir no horizonte, tingindo o céu com seus tons naturais, Zye retornava à sua árvore, renovada em sua determinação de ser a guardiã fiel daquele paraíso intocado.
- Nas noites de temporal....
- Ela acorda!
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0822