* Nº 0814 - NOS ACORDES DE ALGODOAL- MAYANDEUA - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA



E os acordes acordaram. No canto da noite, o vento soprou com um frio diferente, trazendo consigo uma sensação inusitada. As poucas folhas do pequeno cajueiro estavam caindo, embaladas pela brisa gelada que anunciava a chegada do inverno. No lugar das folhas secas, outros seres brotaram, seres que pareciam estranhos e distantes das formas de vida que conhecemos. Mas isso não importava; o importante era que eles viviam, pulsando com uma energia própria e silenciosa. Assim, os acordes acordaram também o inverno. O som do vento mudou de direção, carregando consigo a força de novas cores e flores que brotavam, desafiando o frio. O dia surgia com uma luz distinta, como se o mundo estivesse passando por uma renovação profunda. Lá na frente, as ondas batiam contra as pedras, criando uma sinfonia natural que se misturava com o sussurro do vento cada vez mais frio.

As praias de Algodoal Mayandeua eram testemunhas desse ciclo implacável. Os pescadores, em suas rotinas silenciosas, percebiam a transformação ao seu redor. Os sons da ilha – os acordes naturais da vida – pareciam mais intensos, mais vivos. As trovoadas e os raios rasgavam o céu, anunciando a força do vento que chegava com toda a sua fúria. Era uma renovação que não conhecia o amanhã, um ciclo que reiniciava a cada estação, marcando o tempo de forma única. As ondas, as pedras, o vento e as folhas caídas do cajueiro contavam uma história de continuidade e mudança, uma narrativa escrita pela própria natureza. Os seres novos que surgiam onde antes havia folhas secas eram a prova viva de que a vida encontra sempre um jeito de florescer, mesmo nas condições mais adversas.

Os acordes, "acordados" pelo inverno e seu vento de fora, ecoavam pela ilha. Cada som, cada movimento do ar, carregava uma promessa de renovação. Algodoal Mayandeua não era apenas um lugar; era um palco onde a natureza encenava suas peças, onde o vento, o mar e a terra se encontravam em um balé eterno. Os trovoes e raios nas ilhas traziam uma majestade assustadora, uma lembrança de que a força da natureza é indomável e bela.

Até quando? Não sabemos. Mas sabemos que, enquanto o ciclo se renovar, os acordes continuarão a acordar, trazendo com eles a promessa de novos invernos, novas flores, novas cores. Assim, o vento chegou forte, trazendo consigo não apenas o frio, mas a certeza de que a vida, em sua infinita capacidade de renovação, sempre encontrará um jeito de nos surpreender e encantar.

Os acordes acordaram, e com eles, nós também despertamos para a beleza e o mistério das praias de Algodoal Mayandeua, onde a natureza nos ensina que cada fim é apenas o começo de um novo ciclo.


FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius N° 0814


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