*Nº 0809 - VISITAS DE IGARAPÉ - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA



Nas margens do igarapé, onde a vegetação se curva em reverência às águas escuras, reside Zyurus, um homem de olhos penetrantes. Há muito tempo ele desbravou na mata em busca de um refúgio, um lugar onde pudesse estar em harmonia com a natureza. E foi ali, na beira daquele igarapé tranquilo, que encontrou seu lar. Desde o dia em que adquiriu o terreno, este rapaz começou a perceber algo extraordinário. À medida que o sol se punha sobre as copas das árvores, os sons da floresta ganhavam uma nova dimensão. Ele ouvia sussurros misteriosos entre as folhas, risos suaves que pareciam sair da brisa noturna. Eram os murmúrios dos encantados, os guardiões invisíveis do igarapé, revelando-se apenas aos olhos sensíveis daquele moço.

No silêncio das horas mortas, quando a noite envolvia a mata em seu manto escuro, aquele rapaz, sentia uma presença ao seu redor. Seres etéreos dançavam sob a luz prateada da lua, suas vozes suaves ecoando entre as árvores. Ele aprendeu a respeitar esses momentos, a se recolher em seu abrigo. Enquanto os encantados percorriam livremente as margens do igarapé, lá estava ele em sua rede pra lá e prá cá. Juntos em harmonia com os seus mundos.

Mas Zyurus não era apenas um observador passivo dos segredos daquele espaço. À medida que os dias se transformavam em semanas e meses, ele desenvolveu um vínculo especial com os seres que habitavam aquele lugar. Por meio de conversas silenciosas e gestos de respeito, ele ganhou a confiança dos encantados, tornando-se um protetor honorário daquele local na mata. Nas noites quentes, o moço sentava-se à beira do igarapé, envolto pela serenidade da natureza. E ali, sob o brilho das estrelas, ele compartilhava histórias antigas com seus novos amigos invisíveis. Contava-lhes sobre o mundo dos humanos, suas alegrias e tristezas, suas lutas e conquistas. E em troca, os encantados revelavam a ele os segredos mais profundos de muitos portais que existiam em vários pontos em toda a região do Salgado. Ele então ouvia calmamente cada detalhe, absorvendo os mistérios que só poderiam ser compreendidos pelos corações mais puros.

Assim, aquele cidadão tornou-se um elo entre dois mundos, um guardião dos segredos do igarapé e um mensageiro dos mistérios daquele santuário natural. E enquanto a noite se desvanecia e o sol surgia no horizonte, ele sabia que sua jornada estava apenas começando, que havia muito mais a descobrir sobre os segredos daquele novo mundo e suas maravilhas além do visível.

Enquanto isso, o assovio da Matinta já se ouvia. E Zyurus sabia que naquela noite uma conversa com muito café e porronca iria surgir, em mais um capítulo da sua jornada na mata, onde os segredos da natureza se entrelaçam com as histórias contadas sob o luar.

- Primolius assim contou esta história para as mucurinhas de um coqueiro em Camboinha.


FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius N° 0809

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