* N° 0805 - A PORTA FECHADA - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA
Ao longo da costa, onde o mar dança com a terra, uma porta repousava, guardiã de um segredo além das ondas. Não conduzia a residências ou jardins, mas sim a um domínio distante e misterioso: as ilhas.
Por anos, essa porta seduziu muitos, prometendo aventuras e enigmas do outro lado. Navios aportavam com tripulações audazes, olhos cheios de esperança e corações repletos de sonhos. Contudo, ao tentarem cruzá-la, algo peculiar ocorria. As águas que circundavam as ilhas pareciam relutantes em permitir a passagem, empurrando as embarcações de volta, como se as próprias ondas fossem sentinelas de um segredo insondável.
Inúmeros tentavam, mas poucos logravam romper essa barreira invisível. Os retornantes traziam um olhar desencantado, uma mistura de frustração e resignação estampada em seus semblantes. Haviam sentido o chamado das ilhas, porém as águas implacáveis os remetiam à terra firme, onde o mundo era conhecido e previsível.
À margem das embarcações ancoradas, a lama avançava pausadamente, como a metáfora da passagem inexorável do tempo e da inevitabilidade da mudança. No entanto, esse avanço era apenas físico, pois nada parecia se alterar naquela espera ansiosa pela travessia. Os anseios, outrora fervorosos, agora se tornavam desbotados, meras sombras do que poderiam ter sido.
Assim, os que retornavam às cidades carregavam mais do que a lembrança de uma tentativa malograda. Levavam consigo o peso dos sonhos não concretizados, a sensação de terem estado tão próximos e, ao mesmo tempo, tão distantes. A porta permanecia cerrada, as ilhas um mistério intocado, e o desejo persistia, como uma chama tênue que se recusava a se extinguir.
Enquanto isso, o mar sussurrava seus segredos, as ondas quebrando em um ritmo constante, como um lembrete silencioso da vastidão do desconhecido além da porta fechada para as ilhas. E assim, a vida seguia seu curso, entre sonhos não realizados e horizontes inexplorados, enquanto a porta se mantinha inabalável, resguardando seus mistérios para aqueles que ousassem desafiá-la novamente.
- Mas, sempre haverá uma esperança!
FIM
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Projeto Musical e Literário Primolius N° 0805