*Nº 0681 - REINO DOS GUAXININS - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA

 


Procyon, o guaxinim travesso da Ilha de Mayandeua, passava seus dias escondido entre galhos e moitas, dormindo profundamente, longe dos olhares dos moradores da vila. Quando o sol finalmente se punha e as sombras da noite tomavam conta da ilha, ele emergia de seu esconderijo, silencioso e ágil, com sua visão noturna afiada como sempre. Era nesse momento que Procyon se esgueirava por entre as redes de pesca dos homens da vila, sempre em busca de uma oportunidade para se divertir ou roubar um peixe fresco. Sua fama não era das melhores entre os pescadores: ele era conhecido por ser danado, esperto e ligeiro, e poucos conseguiam pegá-lo em flagrante.

Apesar de sua travessura noturna, Procyon era uma figura intrigante, temido e admirado por sua esperteza. Ele conhecia todos os caminhos secretos da ilha, desde os manguezais até as dunas, e não havia cerca ou curral que pudesse impedi-lo de explorar. Ele invadia os currais em busca de frutas, sementes e pequenos animais, sempre escapando antes que alguém pudesse sequer perceber sua presença. Os moradores da ilha já haviam aceitado sua existência, embora nem todos o vissem com bons olhos.

Em uma de suas muitas aventuras noturnas, Procyon teve um encontro que mudaria sua vida para sempre. Enquanto explorava um trecho escuro da floresta, à procura de algo novo para saciar sua curiosidade insaciável, ele se deparou com uma criatura que jamais imaginou encontrar: a majestosa Jaguacininga. Ela era uma criatura de rara beleza, um espírito das matas, conhecida por sua elegância e força. Sua pelagem era negra como a noite, com manchas prateadas que reluziam ao luar, e seus olhos brilhavam como estrelas distantes.

Procyon ficou encantado no instante em que a viu. A Jaguacininga, que até então mantinha distância de todos, sentiu algo diferente naquele pequeno e audacioso guaxinim. Ela observou com interesse a sua ousadia, e, aos poucos, uma amizade foi se formando entre eles. No silêncio das noites, os dois passeavam lado a lado pelas dunas de Mayandeua, atravessando trilhas e areias sob o céu estrelado. Cada noite era uma nova aventura, e logo o que começou como amizade transformou-se em algo mais profundo.

Sob a luz do luar que banhava a ilha, Procyon e a Jaguacininga fizeram suas juras de amor eterno. Eles se encontraram em um ponto alto das dunas, onde o vento soprava suave e o mar murmurava baixinho ao fundo. Ali, cercados pela natureza exuberante de Mayandeua, os dois se prometeram companheirismo e fidelidade, suas almas entrelaçadas para sempre. A cena não passou despercebida. Os outros animais da ilha, sempre atentos aos acontecimentos, assistiram à cerimônia com grande alegria. Pequenos pássaros cantaram baixinho, enquanto as corujas observavam de longe, e até os crustáceos que habitavam a praia se aproximaram para testemunhar o evento.

Abençoados por todos os seres da ilha, Procyon e Jaguacininga tornaram-se lendas vivas. Juntos, eles continuaram a explorar a natureza selvagem de Mayandeua, sempre sob o manto da noite. As dunas, os manguezais e as florestas eram o palco de suas aventuras noturnas, onde riam, brincavam e desafiavam os limites da ilha. Procyon, antes um guaxinim solitário e travesso, havia encontrado seu equilíbrio ao lado de Jaguacininga. E, embora ainda fosse astuto e arteiro, suas escapadas agora eram diferentes, sempre compartilhadas com sua companheira.

Os habitantes da vila, aos poucos, começaram a notar uma mudança no comportamento de Procyon. Ele continuava a aparecer, mas suas travessuras haviam diminuído. Alguns diziam que ele finalmente tinha encontrado a paz ao lado da Jaguacininga, e que agora se dedicava mais a explorar as belezas naturais da ilha do que a invadir currais e redes de pesca.

A história de Procyon e Jaguacininga passou a ser contada pelos mais velhos da vila. Eles falavam do amor improvável entre o guaxinim travesso e o espírito da mata, uma união que representava o equilíbrio entre a astúcia e a força, entre a leveza da vida noturna e a profundidade dos segredos da floresta. Os dois continuaram suas aventuras, sempre sob a luz prateada da lua, celebrando o amor e a liberdade que encontraram nas terras selvagens de Mayandeua.

E assim, a história de Procyon e Jaguacininga viveu através dos tempos, lembrando a todos que a natureza tem suas próprias histórias de amor, onde os espíritos selvagens encontram seus pares e caminham juntos, abençoados pelo céu estrelado e pela terra mágica da ilha.

- Fonte: Jornal do Mangue

- Repórter: Seu Caranguejo.


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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0681

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