*Nº 0677 - REINO DAS RÃS E PERERECAS ENCANTADAS - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA
Certo dia, o sapo Anuros, diferente de todos os seus irmãos, embarcou em uma jornada que o levaria além dos limites que sua espécie jamais ousou cruzar. Desde cedo, ele sentia uma inquietação pulsar em seu pequeno corpo verde. Enquanto os outros sapos coaxavam preguiçosamente nas madrugadas da Vila de Camboinha, Anuros mal podia conter sua energia. Ele não queria apenas coaxar, como todos os outros; ele queria explorar. Sentia que havia mais para descobrir do que os pequenos lagos onde sua espécie costumava se agrupar.
Anuros era visto como diferente pelos seus pares. Enquanto a maioria dos sapos temia perder o caminho de volta para casa se viajassem longe demais, Anuros ansiava por novas aventuras. Ele acreditava que o mundo era vasto demais para ser apreciado de apenas um lugar. Sua inquietação o levou a começar a pular, e de pulo em pulo, Anuros foi conhecendo mais e mais dos arredores da ilha. A princípio, seus irmãos riam de sua "loucura" de pular sem parar. Eles coaxavam suas canções tradicionais nas madrugadas, enquanto Anuros desaparecia nos primeiros raios de luar, saltando de um lago a outro. E foi assim que ele começou a explorar lugares que muitos sapos jamais haviam imaginado. Conheceu as tranquilas águas de Fortalezinha, os manguezais de Mocooca e as misteriosas dunas de Algodoal. Em cada novo lago que encontrava, Anuros se encantava com as paisagens, a diversidade de vida e a energia única de cada lugar.
Com o tempo, sua fama se espalhou. Onde quer que fosse, Anuros compartilhava as histórias de suas aventuras com os sapos locais. Ele contava sobre a beleza dos lagos distantes, as florestas encantadas e as criaturas mágicas que ele conhecia em suas viagens. E, para surpresa de muitos, os sapos que antes só coaxavam nas margens começaram a ouvir suas histórias com atenção. A inquietação de Anuros se tornava contagiante. Ele lhes dizia que o mundo não era só feito de uma lagoa, mas de muitos, e que, se eles apenas tivessem coragem de pular e explorar, poderiam descobrir lugares maravilhosos.
“Pular é viver!” dizia ele, com entusiasmo. “O mundo é dos puladores!” E com esse lema, inspirou outros sapos a se aventurarem, a saírem da segurança de seus pequenos lagos e a descobrirem o que havia além. Anuros se tornou um símbolo de curiosidade e coragem, e sua fama ultrapassou os limites da Ilha de Camboinha. Ele passou a ser conhecido por toda a ilha de Mayandeua, onde suas histórias eram contadas em cada lago, como lendas de um sapo que não tinha medo de pular para o desconhecido. Depois de muitos anos de aventuras, Anuros sentiu que era hora de encontrar um lugar definitivo para chamar de lar, um lugar tão especial quanto suas jornadas. E assim, ele se mudou para o Reino de Maya, um local místico que poucos sapos conheciam. Lá, ele encontrou um novo lar perto do lendário Portal de Babel, um ponto de transição entre o mundo físico e o espiritual, onde as forças da natureza se encontravam com os seres encantados.
Em Maya, Anuros fez novos amigos. Seus vizinhos eram figuras igualmente enigmáticas: a Mulher do Mangue, uma protetora das águas e dos manguezais, que sabia conversar com os peixes e plantas aquáticas; e o Vaqueiro do Campo, um guardião dos campos abertos que conduzia criaturas mágicas pelos prados verdes da ilha. Juntos, eles formavam uma pequena comunidade de seres extraordinários, cada um com suas próprias histórias e sabedorias ancestrais.
Mesmo vivendo em Maya, Anuros continuou com sua paixão por explorar. Ele agora viajava menos, mas em cada lua cheia, ainda podia ser visto pulando ao redor do Portal de Babel, saltando entre dimensões e conhecendo segredos que poucos outros sapos sequer ousavam imaginar. E quando os visitantes encantados vinham a Maya, Anuros sempre os recebia com uma história sobre suas jornadas pelos lagos e vilas de Mayandeua.
Ele se tornara mais do que um simples sapo: era um verdadeiro mestre das aventuras, um símbolo de liberdade e descoberta. Sua mensagem ecoava entre os lagos e mangues da ilha: o mundo é vasto, e aqueles que têm coragem de pular para o desconhecido são os que realmente vivem. E assim, Anuros viveu seus dias, pulando entre os lagos e histórias, ensinando a todos que, mesmo sendo um sapo pequeno, com curiosidade e coragem, qualquer um pode conquistar o mundo.
Anuros mudou-se para o seu reino em Maya. Vive agora perto do Portal de Babel, seus vizinhos: A Mulher do Mangue e o Vaqueiro do Campo.
FIM
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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0677