*Nº 0570 - VIDAS E MANGAS - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA



Numa pequena cidade, havia um homem e uma mangueira. Sua vida estava longe de ser um conto de fadas, repleta de desafios e obstáculos que pareciam insuperáveis. No entanto, algo o manteve firme e esperançoso: sua mangueira. Quando ele era apenas um jovem, plantou uma pequena muda de manga em seu quintal. Cuidou dela com carinho e paciência, como se fosse um filho. Aquela mangueira testemunhou o crescimento dele, tanto em estatura quanto em experiência de vida. Aquele senhor lembra-se da primeira chuva que pegou na adolescência, debaixo daquela mangueira. As gotas da chuva eram como bênçãos do céu, lavando suas preocupações e renovando suas esperanças. Foi um momento de pureza e renovação, uma sensação que ele guardou no coração.

Anos se passaram, e a mangueira retribuiu o cuidado. Finalmente, um dia, ele viu o primeiro fruto maduro pendurado nos galhos. Era um pequeno milagre que brotou de anos de dedicação. Ele provou a doçura da recompensa por sua paciência. Mas a mangueira era mais do que uma fonte de frutas deliciosas. Foi debaixo dela que ele teve seu primeiro beijo, um momento mágico e inesquecível. A sombra da mangueira proporcionava um refúgio tranquilo nos dias quentes, onde ele costumava amarrar sua rede e tirar uma soneca. Sob aquela árvore, ele sonhou, riu e enfrentou desafios.

No entanto, o maior presente que a mangueira ofereceu foi o seu primeiro amor. Foi ali, sob a sombra daquela árvore, que ele encontrou alguém especial. Eles compartilharam risos, histórias e olhares cheios de promessas. A mangueira testemunhou o nascimento de um amor verdadeiro, que floresceu como as frutas maduras que balançavam em seus galhos. À medida que os anos passavam, a mangueira continuava a desempenhar um papel significativo na vida desse homem. Foi sob sua copa frondosa que ele encontrou refúgio durante uma tempestade feroz, quando sua casa estava prestes a ser inundada. A mangueira, com suas raízes profundas, protegeu-o e sua família, tornando-se um símbolo de segurança e resiliência.

Além disso, quando a idade avançou, ele compartilhou momentos especiais com seus filhos e netos sob aquela árvore. Contou-lhes histórias de sua juventude, da primeira vez que viu um fruto maduro na mangueira e do amor que encontrou sob sua sombra. A mangueira tornou-se um elo entre as gerações, um guardião de memórias e tradições familiares. O tempo passou e a vida trouxe novos desafios. A saúde do homem começou a declinar, mas ele continuava a encontrar conforto e força na presença da mangueira. Em dias de cansaço, ele se sentava à sua sombra, recordando os momentos preciosos que ali vivera. A mangueira, por sua vez, permanecia forte e robusta, suas raízes cada vez mais profundas, sustentando não apenas a árvore, mas também as memórias de uma vida inteira.

Os moradores da pequena cidade conheciam bem essa história. A mangueira do velho homem era um símbolo de esperança e resiliência para todos. Muitos acreditavam que a árvore possuía uma mágica especial, uma conexão quase espiritual com seu cuidador. E talvez houvesse verdade nisso, pois a mangueira florescia com uma vitalidade que desafiava o tempo, como se refletisse a própria essência da vida do homem que a plantou. Quando o homem finalmente partiu, deixando este mundo para trás, a mangueira continuou a crescer, um testemunho silencioso de sua vida e amor. Seus filhos e netos, agora cuidadores da casa e do quintal, mantiveram a tradição de cuidar da árvore com o mesmo carinho e dedicação. A mangueira continuou a dar frutos, e a sombra sob a qual tantas memórias foram criadas, agora abrigava uma nova geração de sonhos e esperanças.

A história desse homem e sua mangueira é uma narrativa de perseverança, amor e a duradoura relação entre um ser humano e a natureza. A árvore que ele plantou e cuidou tornou-se um legado vivo, um símbolo da continuidade da vida e da importância das conexões que fazemos ao longo do caminho. E assim, a mangueira e a memória do homem permaneceram entrelaçadas, lembrando a todos que a verdadeira essência da vida está nas raízes que plantamos e nas histórias que deixamos para trás.

- Mangueiras para um mundo melhor!


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0570



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