Nº 0565 - ENTRE BENGALAS E ASSOMBRAÇÕES - CONTO FANTÁSTICO



Direto de Mayandeua...

Na penumbra de uma noite, enquanto retornava da residência de sua namorada, situada na extremidade oposta da cidade, ele deparou-se com um caminho sombrio e desolado. A única construção que quebrava a monotonia era um barracão antiquado e abandonado. Dizia-se que ali ecoavam vozes do além, que era um ponto de manifestações sobrenaturais, onde espíritos não abandonavam aquele recinto, e rumores indicavam a presença de riquezas ocultas. Durante a noite, assobios, pedradas, gritos e murmúrios assombravam até os mais destemidos. Ninguém ousava dormir naquele barracão mal-assombrado.

Ignorante das lendas, naquela noite, um arrepio percorreu sua espinha ao se aproximar do barracão. Uma sensação de observação vinda das sombras o envolveu. Ele acelerou o passo, evitando olhar para os lados, mas um ruído peculiar interrompeu seu intento. Como se alguém arrastasse uma corrente pelo chão. Parou, virou-se e avistou uma luz tênue emanando de uma janela. Uma vela solitária iluminava uma figura sinistra. Alto e esguio, trajava-se de negro, com um chapéu de abas largas e uma capa ondulante. Barba longa e branca, empunhando uma bengala, seus olhos penetrantes encontraram os seus.

"Boa noite, meu jovem. Está perdido?", disse com voz rouca.

Sem palavras, paralisado pelo medo, questionou a identidade daquele ser. Wetyulos Campesys, o proprietário do barracão em vida, revelou sua existência além-túmulo, condenado a vagar pelo recinto devido a seus atos cruéis. O espectro propôs um desafio: passar uma noite no barracão, sem sair, sem gritar. Em troca, revelaria a localização de seu tesouro. Recusou, mas a ambição venceu o medo, e ele aceitou.

A noite transcorreu como um pesadelo, repleto de sons aterradores e visões horripilantes. Sobreviveu até o amanhecer, quando Wetyulos retornou, surpreso pela coragem do homem. Ofereceu-lhe a chave de um baú, onde supostamente guardara sua fortuna. A busca revelou uma carta como único tesouro.

Nela, Wetyulos confessava seus pecados, revelando que o verdadeiro tesouro era o perdão. Uma última brincadeira, uma chance de redenção para ambos. Perdoou ou condenou aquele espírito atormentado? O mistério permaneceu, e ao sair do barracão, deixou para trás não apenas o enigma do tesouro, mas também a crença em assombrações e a busca por riquezas efêmeras.

- Vixe Maria!


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0565

 

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