* Nº 0560 - SONHO MARINHO - SÉRIE: CONTOS DE MAYANDEUA

 


Primolus, o contador de histórias, conheceu um menino cujo sonho era tão peculiar quanto fascinante. Ele sempre dizia, com os olhos brilhando de convicção: "Quando eu crescer, vou me tornar um peixe!" Para muitos, essa ideia poderia parecer absurda — afinal, como um ser humano poderia se transformar em uma criatura das profundezas? Mas, como Primolus logo descobriu, havia algo de mágico e profundo na perspectiva desse jovem.

Desde que se entendia por gente, o menino sentia uma atração irresistível pelo oceano. A praia era seu refúgio favorito, um lugar onde ele podia passar horas a fio observando as ondas dançarem ao encontro da areia. Ele colecionava conchas como tesouros, mergulhava em documentários sobre a vida marinha e sonhava em explorar recifes de coral vibrantes e abismos oceânicos cheios de mistérios. O mar não era apenas um elemento da natureza para ele; era um chamado, uma extensão de sua própria alma.

Conforme crescia, essa paixão só se intensificava. Ele aprendeu a nadar como um verdadeiro habitante das águas, deslizando suavemente sob a superfície como se fosse parte daquele mundo líquido. Cada mergulho o aproximava de seu sonho de se tornar um peixe. Embora soubesse que a transformação física era impossível, ele encontrou outra maneira de realizar seu desejo: através da imaginação e da escrita.

O menino começou a escrever histórias sobre aventuras subaquáticas, criando mundos marinhos fantásticos repletos de criaturas mágicas e paisagens encantadas. Nessas narrativas, ele se transformava em um peixe, explorando segredos escondidos nas profundezas e vivendo experiências incríveis. A cada palavra que surgia no papel, ele mergulhava mais fundo não apenas nos oceanos imaginários que criava, mas também nas profundezas do próprio ser. A escrita se tornou seu portal para o desconhecido, uma forma de dar vida aos seus sonhos mais íntimos.

Com o tempo, o menino percebeu que sua jornada de autodescoberta o havia levado a realizar seu sonho de maneira única. Ele pode nunca ter se transformado em um peixe de carne e osso, mas nas páginas dos seus livros, ele nadava livremente pelos mares infinitos da imaginação. Ele era um peixe nas palavras que escrevia, explorando correntes invisíveis e revelando segredos escondidos nas profundezas do oceano da criatividade.

Hoje, ao olhar para trás, o menino entende que seu sonho foi muito além do que ele poderia ter imaginado. Ele não precisava abandonar sua humanidade para viver como um peixe; bastava mergulhar nas águas da imaginação e deixar que sua essência fluísse junto com as marés. E assim, ele continuará sendo um peixe — não na realidade física, mas no vasto e inexplorado reino da mente, onde os sonhos têm o poder de se tornar realidade.

"Nosso menino," concluiu Primolus, "descobriu que os limites entre o possível e o impossível são tênues quando alimentamos nossos sonhos com criatividade e paixão. Ele é a prova de que podemos ser tudo aquilo que desejamos, desde que tenhamos coragem de mergulhar nas profundezas do nosso próprio ser."

E assim será, enquanto ele continuar a escrever, o menino permanecerá um peixe — livre, eterno e infinito nas ondas da imaginação, onde os sonhos jamais deixam de existir.

- E assim foi e é! 


FIM

Copyright de Britto, 2022

Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0560

Mensagens populares