Nº 0539 - ANATOMIA DO POVO DOS IGAPÓS - CONTO

 



Primolius assim relatou...

Era uma noite escura e silenciosa nos confins da Amazônia. As águas dos igapós brilhavam sob a luz da lua enquanto se entrelaçavam com a floresta densa. Ali, no coração desse ecossistema único, vivia um povo misterioso e resiliente, os guardiões dos segredos dos igapós. Em uma noite de lua cheia, um estrondo ecoou na floresta. Árvores antigas sussurravam ao vento, como se tentassem revelar algo. As correntes fluviais criavam padrões incomuns, dançando e serpentando pelo cenário, como se tivessem vida própria, incitando a curiosidade do povo.

Kauã, um jovem destemido, estava determinado a descobrir a verdade. Ele havia sido treinado desde seu nascimento para ser um guardião dos igapós, assim como seus antepassados. Com coragem, ele partiu em uma jornada pela floresta, deixando para trás a segurança da aldeia. Ele seguiu as pistas sutis deixadas pelas árvores e pelas águas, confiando em seu conhecimento das enchentes iminentes, que acrescentava urgência à sua missão. A medida que mergulhava mais fundo no coração dos igapós, ele sentia uma energia intensa ao seu redor, como se a própria floresta sussurrasse segredos em seus ouvidos, alimentando sua determinação. Após dias de caminhada, Kauã chegou a um antigo templo escondido entre as raízes das árvores. Lá dentro, um clarão de luz revelou a passagem mágica para um mundo novo e desconhecido.

Nesse mundo misterioso, Kauã encontrou os espíritos das árvores centenárias que lhe contaram a verdade sobre as ocorrências estranhas. Eles revelaram que a grande inundação que se aproximava era mais do que uma inundação comum, era uma chamada da floresta, um desafio e uma oportunidade para proteger a harmonia do ecossistema. Kauã sentiu seu coração bater em sintonia com o ritmo da natureza, e ele compreendeu que era o momento de agir. Com essa nova compreensão, Kauã retornou à sua comunidade, e seu relato inflamou a paixão dos guardiões dos igapós. Juntos, eles se prepararam para a grande inundação, sabendo que não era apenas um evento natural, mas uma oportunidade para fortalecer seus laços com a natureza e proteger a beleza e os segredos dos igapós.

À medida que a grande inundação se aproximava, a aldeia dos guardiões dos igapós fervilhava de atividade. Kauã liderava os preparativos, reunindo todos em um esforço unificado para proteger seu amado ecossistema. As famílias compartilhavam histórias e lendas, passando adiante a sabedoria acumulada ao longo das gerações. As crianças eram ensinadas sobre o respeito à natureza e a importância de manter o equilíbrio no ecossistema. Elas se envolviam nas preparações, ajudando a construir barreiras naturais para proteger suas casas e suas terras.

A noite da grande inundação chegou, e a aldeia estava em alerta máximo. A lua cheia iluminava o céu, e os guardiões dos igapós se reuniram em torno de uma fogueira, entoando cânticos ancestrais. Comunhão com a natureza era a chave, e eles pediam a força da floresta para enfrentar o desafio que se aproximava. As águas começaram a subir, invadindo a aldeia. No entanto, os guardiões dos igapós estavam preparados. Eles tinham construído sistemas engenhosos de canais e represas naturais para direcionar a água para áreas seguras. O trabalho em equipe e o conhecimento transmitido de geração em geração eram suas melhores armas.

A noite avançou, e à medida que o rio atingia seu pico, algo extraordinário aconteceu. As árvores ao redor da aldeia sussurravam palavras de gratidão. As correntes fluviais, que antes pareciam turbulentas, tornaram-se serenas e fluíam em harmonia. A natureza havia respondido ao chamado dos guardiões dos igapós. Na manhã seguinte, quando as águas recuaram, a aldeia emergiu ilesa. A grande inundação havia servido como uma lição de humildade e respeito pela natureza. Os segredos dos igapós eram mais profundos do que nunca, e a ligação entre o povo e o ecossistema havia se fortalecido ainda mais. Desde então, o povo dos igapós celebra a grande inundação como um momento de renovação e conexão com a natureza. Eles continuam a desvendar os segredos desse ecossistema único, mantendo a tradição de serem os maestros dessa sinfonia natural, honrando a sabedoria que passa de geração para geração, como os segredos guardados pelas árvores centenárias. Eles aprenderam que, quando se respeita a natureza, a natureza responde com sua própria sabedoria e harmonia. O povo dos igapós, junto com Kauã, continua a ser uma inspiração para todos que valorizam a conexão com o ambiente natural.

Após a intensa experiência da grande inundação, a aldeia dos guardiões dos igapós estava em paz. O povo continuava a celebrar a noite das noites, uma reverência à conexão especial entre eles e a natureza. Era uma noite em que todos os segredos da floresta pareciam fluir livremente, trazendo inspiração e aprendizado.

No entanto, algo de extraordinário estava prestes a acontecer naquela noite especial.  Dizem que durante os preparativos, Kauã encontrou um caroço mágico de tucumã sagrado, uma fruta muito rara e considerada sagrada pelos guardiões dos igapós. O caroço irradiava uma energia única, emanando uma brilhante luz verde-esmeralda. Impulsionado por uma intuição profunda, Kauã compartilhou a descoberta com os anciãos da aldeia. Após uma cuidadosa reflexão, eles perceberam que o caroço mágico era um sinal ancestral. Acreditavam que aquele objeto encontrado na véspera da noite das noites continha o poder de revelar o maior segredo dos igapós. 

- Mas esta e uma nova história que Primolius brevemente narrará!


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0539


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