Nº 0535 - CRÔNICA Á BEIRA-MAR

O sol ainda escaldante da praia penetrava na pele de um homem que caminhava pela areia. O vento fresco soprava em seu rosto, enquanto ele admirava o mar reluzente, com suas múltiplas tonalidades de azul e verde. Era um espetáculo da natureza que sempre o atraía, conferindo-lhe uma sensação de paz e liberdade incomparável.

Decidido a se aproximar da água, ele tirou os sapatos e as meias com cuidado e adentrou o mar. Apesar da água gelada, ele não se importou. A sensação de contato com as ondas revigorantes o envolveu por completo. Ele avançou lentamente, até que a água cobrisse seus joelhos, e então começou a girar e pular em sincronia com o movimento das ondas.

O som dos estrondos no fundo do mar servia como uma melodia que acompanhava seus movimentos, envolvendo-o em uma alegria quase infantil. Por um momento, ele se sentiu como um dançarino, sincronizando seus passos com as caprichosas marés.

Enquanto ele se entregava a essa dança com o mar, seus olhos captaram uma mancha de vermelho no horizonte. Era um barco de pesca que regressava à costa. Essa visão trouxe à tona lembranças de sua juventude, quando ele e seus amigos costumavam embarcar em aventuras nos barcos dos pescadores, explorando ilhas próximas, ouvindo histórias fascinantes dos marinheiros sobre sereias, tesouros e monstros marinhos.

No entanto, essa onda de nostalgia também trouxe consigo uma pitada de tristeza. Ele pensou em como sua vida havia mudado desde aqueles tempos. Crescera, perdido o contato com amigos de infância, casado e depois divorciado após anos de desentendimentos. O desafio da vida adulta o afastara de sua paixão pelo mar.

Ele balançou a cabeça, desejando afastar os pensamentos sombrios. Estava ali na praia, depois de tanto tempo, em busca de um novo começo. Alugara uma casa modesta à beira-mar e decidira viver um dia de cada vez, na esperança de recuperar a alegria e o amor que o mar lhe proporcionara outrora.

Ele continuou a girar e a pular na água, como se fosse um jovem novamente. Deixou-se levar pela dança das ondas, apreciando o toque do mar, que o acariciava com carinho. O mar, sua antiga paixão, começou a reavivar sua alma e a tirar as nuvens de melancolia que o acompanhavam. Enquanto a luz do dia gradualmente se transformava em escuridão e as estrelas começavam a pontilhar o céu, ele permaneceu na água, imerso em seus pensamentos e lembranças. A praia silenciosa, com o som suave das ondas como trilha sonora, tornou-se seu refúgio.

À medida que a noite avançava, o homem continuou na água, encantado com a serenidade que a praia à noite oferecia. Enquanto as estrelas brilhavam acima e a lua cheia lançava seu brilho prateado na superfície do mar, ele percebeu que esse momento era mágico. Decidiu nadar um pouco mais longe, mergulhando na escuridão das águas profundas. À medida que nadava, foi envolvido por um fenômeno raro e incrível: um plancton começou a emitir luz ao seu redor. Cada movimento dele na água fazia com que pequenas partículas brilhantes criassem um espetáculo de luzes dançantes. Ele estava imerso em seu próprio mundo de contos de fadas marinhos.

De repente, ele se sentiu como se estivesse nadando em um universo de estrelas subaquáticas, como se estivesse flutuando no espaço sideral. Era uma experiência de tirar o fôlego, um daqueles momentos que ele sabia que guardaria na memória para sempre.

Enquanto nadava, sentiu uma sensação de renovação. Naquele momento, ele percebeu que, embora sua vida tivesse mudado e enfrentado desafios, o mar continuava sendo seu refúgio e sua fonte de inspiração. Ele sabia que, a partir daquele dia, faria questão de se reconectar com sua paixão pelo mar, explorando-o de maneiras novas e emocionantes.

Ele emergiu da água e, com as roupas encharcadas, caminhou de volta para a praia. Lá, estendeu-se na areia, olhando para o céu estrelado, com um sorriso de gratidão no rosto. Ele sabia que seu novo começo estava se desdobrando, e o mar seria seu guia, sua fonte de força e, acima de tudo, sua eterna fonte de renovação.

Enquanto ele estava deitado na areia, apreciando o céu estrelado, uma sensação de paz e serenidade o envolveu. Ele sentiu que estava exatamente onde deveria estar naquele momento, conectado com a natureza e consigo mesmo. Era como se o universo estivesse lhe dando uma segunda chance, um momento de renovação e recomeço.

Enquanto contemplava o céu noturno, ele avistou uma estrela cadente cruzando o firmamento. Fechou os olhos e fez um desejo, prometendo a si mesmo que seguiria seu coração e buscaria a felicidade genuína. Ele estava determinado a aproveitar cada momento e encontrar a alegria em sua vida novamente. Naquela noite, ele adormeceu na praia, embalado pelo som suave das ondas. Sonhou com aventuras emocionantes, viagens para terras distantes e encontros inesperados. Quando acordou na manhã seguinte, sentiu-se revigorado e cheio de energia. Sabia que aquele era o começo de uma jornada maravilhosa.

Ao longo dos dias seguintes, ele explorou as redondezas, descobrindo lugares pitorescos e conhecendo pessoas interessantes. Reencontrou velhos amigos e fez novas amizades, compartilhando histórias e risadas. Cada dia era uma oportunidade de aprendizado e crescimento, e ele abraçou isso com entusiasmo. Com o tempo, ele percebeu que a renovação que encontrou na praia se estendia para outras áreas de sua vida. Ele se abriu para novas possibilidades, explorou diferentes interesses e encontrou um propósito mais profundo. A felicidade genuína que tanto buscava estava ao seu alcance, e ele se sentia grato por ter tido a coragem de buscar uma nova vida.

E assim, o homem que um dia se perdeu em meio aos desafios da vida adulta encontrou sua bússola interior no mar. O encontro inesperado com o mar o guiou para um caminho de renovação, autenticidade e alegria. Ele aprendeu a valorizar cada momento, a seguir seu coração e a nunca deixar de se reconectar com sua verdadeira paixão.

E assim, sua jornada de renovação continuou, enquanto ele explorava as maravilhas do mar e descobria o poder transformador da natureza. O sol, o vento e as ondas se tornaram seus aliados, lembrando-o de que, mesmo nos momentos mais desafiadores, sempre há uma oportunidade para recomeçar e encontrar alegria na simplicidade da vida.

E assim Primolius conheceu mais um escolhido pela Princesa.

 FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0535