Nº 0534 - SONHOS DE CURUPIRAS - CONTO FANTÁSTICO

 


Assim Lyrus relatou para Primolius um sonho muito especial... 

Naquela manhã de primavera, Lyrus despertou com uma efervescente energia e inabalável determinação. A luminosidade do sol invadiu o aconchego do seu quarto, acariciando delicadamente seu rosto. Imediatamente, Lyrus ergueu-se, revigorada, e vestiu-se com vigoroso entusiasmo. O melodioso canto dos pássaros do lado de fora orquestrava uma sinfonia da natureza, estendendo um convite irresistível para ela explorar e abraçar o novo dia. Lyrus, preparada com uma mochila abarrotada de suprimentos essenciais, deixou sua casa, situada em uma ilha de indescritível beleza natural. O perfume das flores silvestres misturado ao frescor marinho a envolveu, inundando-a de inspiração. Sua certeza de que aquele dia seria preenchido por aventuras brilhava em seus olhos.

Seu destino era a serena praia que contornava a ilha. A água cristalina refletia de forma hipnotizante os raios do sol nascente, criando um magnífico espetáculo de luz e sombra. Ao mergulhar os dedos na água fresca, as gotas cintilaram como diamantes minúsculos nas palmas de suas mãos. Sentiu-se intrinsecamente conectada com a natureza, uma sensação vibrante que aguçava seu espírito aventureiro. Decidida a explorar um caminho recentemente descoberto, Lyrus aventurou-se pela densa vegetação de cajueiros. A flora e fauna exuberantes do caminho eram estonteantes. E sua câmera capturava cada precioso instante daquela jornada única.

Em meio à sua caminhada, sons suaves e enigmáticos começaram a preencher o silêncio. Era o murmurar de uma cachoeira distante, jogando um convite irresistível para se aventurar mais profundamente agora em uma floresta. Sua curiosidade a impulsionou para frente e quando finalmente atingiu a cachoeira, o cenário espetacular a deixou maravilhada. A água, caindo de uma altura espantosa, em um véu brilhante, formava uma piscina de águas cristalinas. A moça, incapaz de resistir à chamada da natureza, trocou de roupa e se entregou à água revigorante. Nadou até a base da cascata e sentiu as gotas d'água dançarem em sua pele, como se a natureza a envolvesse num abraço. Era como estar num paraíso secreto, separado do caos do mundo exterior.

Após explorar a trilha, se refrescar na cachoeira e registrar a beleza da natureza em sua câmera, Lyrus retornou para sua casa, com o coração inundado de gratidão. A noite caiu delicadamente sobre a ilha. Ela acendeu uma fogueira na praia, sob o céu estrelado. Enquanto as chamas dançavam, a cidadã refletia sobre o dia mágico que acabara de experimentar. No entanto, com a progressão da noite, uma estranha inquietação começou a perturbá-la. Lyrus sentiu como se estivesse sendo observada. Ela olhou ao redor, mas nada, além das árvores e da escuridão noturna, preenchia seu campo de visão. Apesar de seu desconforto inicial, ela tentou ignorar a sensação e continuar desfrutando da serenidade da noite. Enquanto a fogueira continuava a queimar, a chama subitamente se extinguiu de forma misteriosa. Um arrepio percorreu seu corpo e ela decidiu que era hora de se recolher. Enquanto se preparava para dormir, a sensação estranha continuava a incomodá-la.

Determinada a penetrar neste mistério, Lyrus planejou explorar mais profundamente a floresta na manhã seguinte. Queria descobrir se havia algo de incomum acontecendo naquela ilha paradisíaca. E assim, ao ritmo do suave embalo das ondas e da brisa noturna, ela adormeceu, pronta para enfrentar o que quer que estivesse por vir. Na manhã seguinte, Lyrus despertou com uma determinação ainda maior. Ela sabia que tinha a missão de desvendar o mistério que a perturbara na noite anterior. Devidamente preparada, embarcou em uma nova jornada pela floresta, uma mistura de curiosidade e coragem marcando cada passo.

Ela examinou cada canto, cada peculiaridade do ambiente exuberante. A sensação de estar sendo observada, no entanto, persistiu. Lyrus continuou sua investigação, penetrando na densa vegetação e seguindo pistas sutis que encontrava pelo caminho. Foi quando chegou a uma clareira isolada que a sensação aumentou. Diante dela, emergindo das sombras, estava uma figura enigmática. Lyrus se refugiou, observando meticulosamente a figura. Não conseguia ver o rosto, mas sentia que seus olhos estavam direcionados para ela. Imóvel, a figura misteriosa simplesmente a observava, parecendo desejar comunicar algo. Lyrus sentiu um arrepio, mas ao mesmo tempo uma sensação de presença amigável. Convocando toda a sua coragem, decidiu se aproximar, devagar e cuidadosamente.

Quando finalmente chegou mais perto, a figura revelou-se. Era o Curupira, o guardião das florestas, com seus cabelos vermelhos e os pés virados para trás. Ele permaneceu silencioso, porém seus olhos carregavam uma sabedoria e mistério que fizeram Lyrus sentir-se diante de algo realmente extraordinário. O Curupira apontou para a floresta ao redor, num gesto mudo, mas profundamente significativo. Lyrus compreendeu que aquele era um apelo pela proteção e preservação da natureza. Com um último olhar enigmático, o Curupira desapareceu nas sombras da floresta. Lyrus voltou para casa com uma sensação de gratidão e responsabilidade. Ela sabia que a ilha era um lugar especial, cheio de mistério e magia, e ela agora tinha um papel singular em sua preservação.

E assim, a moça continuou sua vida na ilha, protegendo-a e explorando seus segredos com uma renovada reverência e encantamento. Cada dia se tornou uma aventura, cada noite um momento para refletir sobre a magia que a cercava. A lua cheia ainda brilhava no céu, derramando sua luz sobre a ilha enquanto Lyrus sonhava com novas aventuras. Ela sabia que algo misterioso estava por vir, mas estava pronta para enfrentar qualquer desafio que a natureza lhe reservasse.

- Assim ela acordou assustada. Mas, no seu íntimo. Tinha a certeza que havia vivido tudo aquilo. 

 

FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0534

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