Nº 0526 - NO ARRAIAL DA NAZA - CONTO

 



No coração do Pará, lá em Belém havia uma época no ano que a cidade se tornava ainda mais mágica. E era o mês de outubro. Naquele mês, as ruas se enchiam de fervor e devoção para celebrar o Arraial de Nazaré e a tão aguardada Festa do Círio. Um menino de dez anos, chamado Enzyus, vivia com sua família no bairro de Nazaré, bem perto da Basílica onde a imagem de Nossa Senhora é venerada. A infância de Enzyus foi preenchida por momentos inesquecíveis naquela terra cheia de tradições e fé. Uma das lembranças mais marcantes daquela criança era ir para a Praça da Samaumeira, um lugar especial onde as festividades do Círio ganhavam vida. Ali, as duas árvores gigantes acolhiam famílias inteiras de periquitos que na alvorada e no entardecer era um espetáculo. Além do barulho que faziam. Também ali na praça muitos se reuniam debaixo de frondosas mangueiras para compartilhar alegria e encontros de amigos do colegio e familiares que vinham do interior.

O menino, com os olhos brilhando de empolgação, corria pelas barracas do arraial, encantado com tudo que via. As mesas cheias de comidas típicas, os brinquedos de miriti e, é claro, as pipocas coloridas, maças do Amor, fitas da Santinha que se espalhavam por todos os cantos. Era uma verdadeira explosão de sabores e cores que enchia o coração de Enzyus de alegria. Mas para o moleque, a Festa do Círio não era apenas diversão e quitutes. De alguma forma ele via naqueles festejos a expressão profunda da fé de seu povo. Apesar de ser uma criança, a cada ano, ele testemunhava as procissões, com milhares de pessoas em oração, caminhando pelas ruas de Belém até aquela linda igreja toda iluminada.

Era nessa procissão que toda a magia se unia. À noite, pedidos de esperança e bênçãos eram lançados ao céu, enquanto a roda gigante girava em meio às luzes e ao som das músicas tradicionais. Cada volta da roda simbolizava mais um momento de fé e devoção que se renovava no coração do menino. Na visão daquele menino de dez anos, o Círio de Nazaré era um evento especial que transcendia o tempo. A cada ano, ele sentia a esperança e a alegria crescerem dentro dele, assim como a fé que o cercava em todos os momentos. Enzyus carregava consigo a importância de preservar essas lembranças e tradições, para que as gerações futuras também pudessem vivenciar a magia do Círio de Nazaré. Ele sabia que aqueles momentos eram um elo entre o presente e o passado, uma forma de manter viva a chama da devoção e da esperança naqueles que seguiam os passos de Nossa Senhora de Nazaré. Hoje com cinquenta anos Enzyus ainda guarda na memória todas as cenas daqueles meses que só as palavras poderão arquitetar aquelas tardes no Centro Arquitetônico de Nazaré.

Enquanto isso, os brinquedos de borboletas e pássaros amarelos, bem como os ratinhos azuis, estão fixos na memória daqueles dias de festa.

E assim, a tradição e a fé continuam a se entrelaçar em Belém, onde a Festa do Círio brilha com todos os seus sons, cheiros, fitilhos, fogos, alegria, bandeiras e colorido, celebrando a devoção que transcende gerações.

- Viva ao Círio!

       

FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0526

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