TEMPO DO APANHA Nº 0505 - CRÔNICA AMBIENTAL

 



Zeinho, um homem de 47 anos, sempre teve uma relação profunda com a floresta.  Cresceu nas margens dos  rios e desde criança aprendeu a respeitar e tirar da natureza apenas o que precisava para sobreviver. Mas, à medida que o tempo passava, ele viu a mata mudar, assim como sua própria vida. Seu ofício principal era a apanha do açaí, uma atividade que havia sido passada de geração em geração em sua família. Zeinho carregava consigo uma longa linhagem de conhecimento sobre as nuances dessa tarefa, mas também as dificuldades e os perigos que ela envolvia. Inclusive das Curupiras que ficavam sempre fiscalizando os que praticavam este oficio. 

A rotina de Zeinho começava antes do amanhecer, quando o céu ainda estava tingido de tons de rosa e laranja. Ele pegava seu casco e navegava rio acima até as áreas onde sabia que o açaí estava maduro para a colheita. A paisagem ao seu redor era majestosa, com árvores altas e densas, e o som da vida selvagem ecoando por todos os lados. Ao chegar ao local, Zeinho começava a árdua tarefa de apanhar os cachos de açaí. Colocava  a peconha entre os pés. Olhava para o alto. Pegava com vigor o tronco e montava na grande palmeira.  Ele usava sua habilidade e experiência para escalas as árvores com agilidade, equilibrando-se em troncos escorregadios e galhos frágeis. Era um trabalho que exigia destreza e muita resistência.

Zeinho sabia que as condições de trabalho podiam ser cruéis. Suas articulações eram atacadas em  uma constante ação devido às posturas assumidas durante a colheita. O terreno escorregadio representava o risco de quedas, e ele precisava estar constantemente alerta para evitar problemas. Além disso, os perigos da mata eram inúmeros, desde animais cobras, aranhas e  até as facas afiadas usadas para cortar os cachos da rainha. Mas Zeinho persistia. Ele amava sua terra natal e sentia-se responsável por preservar essa tradição ancestral da colheita de setembro, outubro. Ao final de cada jornada, ele voltava para casa com uma saca de  açaí, suado e exausto, mas também com um sentimento de realização. Ele sabia que estava fazendo sua parte para manter viva essa parte essencial da cultura ribeirinha.

Nas noites tranquilas da mata, Zeinho gostava de sentar-se ao redor da lamparina e contar suas histórias para os jovens da vila. Ele falava sobre as lições que aprendera com a mata, sobre a importância de cuidar do meio ambiente e sobre como o trabalho árduo e a dedicação podiam superar os desafios.

Zeinho era mais do que um simples apanhador de açaí; ele era um guardião da tradição e um defensor das matas . Seu amor pela terra e seu respeito pela natureza eram evidentes em cada cacho de açaí que colhia. E assim, ele continua a colher e a contar suas histórias em alguma parte desta Amazônia.

E certamente pela manhã de mais um novo dia. Zeinho estará bem lá dentro da mata junto com os amigos Curupiras.

- Coisas da Amazônia!  


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0505





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