* Nº 0440 - TERRAS- ÁGUAS DE AQUI - SÉRIE: A POESIA DE MAYANDEUA
A mata enflora, esquenta,
Adormece na terra dos caboclos.
Na mata, paus de andiroba,
Paus de copaíba, acendem para o firmamento,
Sons de berimbau rasgam o vento norte.
Rainha encosta, silêncio dos bichos,
Influência da alvorada,
Ensejam o tropicalismo.
Murmuram as nuvens,
Abordam às amistosas nuvens abundantes,
Invernia batendo na terra, assim, chega à chuva,
Peixes esquadrinham o seu descanso nos troncos submersos...
(Rainha Cobra – grande ainda passeando por aí)
Casinhas nas beiradas dos rios e furos,
Fachos da claridade no “piquiazeiro”, "tucumanzeiro" e "bacurizeiros".
Cantos de aracuãs, itaquerês e sanhaços nos galhos do “murucizeiro”...
E lá na água doce...
Um surubim também passeia acelerado.
E lá na salgada...
Um bandeirado passeia pela maré-morta.
(Férias destes bichos “amazônidas”)
A mata ainda floreia,
O mangue ainda semeia,
Requenta a terra dos caboclos.
Na mata, um furacão de galhos invade o verde cenário...
Tarde chegando, folhas ainda neblinando...
O sol ressurge à frente das envelhecidas castanheiras e mangueiros...
(Abre-se o céu do Marajó ao Salgado.)
Lá vai o dia gentil,
Pássaros dão comida à terra,
Lá vem regressando a noite,
Meninos, entalcados, tomam o caldo de peixe...
Suas mães na rede cantam para os jovens filhos,
Carimã no fogo...
Lá se foi o dia formoso,
Foi saindo de mansinho,
Confinou para o denso rio de Esperanças...
No colo das ilhas, o mar respira,
Sussurra segredos nas praias desertas.
Águas verdes dançam em espirais,
Enquanto Mayandeua sonha acordada,
Guardando em seu ventre histórias e promessas.
Os coqueiros curvam-se ao chamado do vento,
Seus galhos abençoados pelo sal e pela luz.
Ondas beijam as margens como mãos piedosas,
E o horizonte se estende infinito,
Como um convite à esperança que nunca morre.
Maya surge no céu, entre nuvens douradas,
Um espelho líquido reflete seus passos etéreos.
Nas águas mortas, os peixes desenham caminhos,
Guiados por estrelas que só os marinheiros conhecem,
E o tempo parece parar, suspenso na vastidão azul.
As ilhas são corações flutuantes,
Pulsando ao ritmo das marés vivas.
Cada grão de areia guarda uma prece,
Cada onda carrega um desejo,
E Mayandeua é o farol de aqui.
Esperança brota nas raízes dos mangues,
Cresce nos galhos que tocam o ventre terra e mergulham no mar.
É a força silenciosa das águas profundas,
Que alimenta o sonho de quem navega sem rumo,
E promete que, mesmo na escuridão, há sempre um porto seguro.
- Crepúsculo do Norte, Amazônia, Mayandeua, Mundo...
Tudo se funde num único canto,
Onde o mar e a terra se encontram,
E onde a esperança vive, eterna,
Como a essência da própria vida.
- Terras águas de aqui!
FIM
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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0440