* Nº 0363 - FOI DE CANOA - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA

 





(Direto de Mayandeua)  

Turyesy, o homem da floresta, desliza sobre as águas calmas do igarapé em sua velha canoa de madeira. O remo corta o espelho do rio com um movimento preciso e silencioso, quase como se ele não quisesse perturbar os segredos que a mata ao redor guarda. Os sons da floresta, ritmados e diversos, preenchem o ar — o canto das araras, o coaxar dos sapos e o farfalhar das folhas sob os ventos suaves.

A canoa balança levemente, enquanto Turyesy observa atentamente cada detalhe ao seu redor. Ele conhece a mata como ninguém, e os sinais de vida sussurram histórias que só ele compreende. Ao longe, a sombra de uma onça se esconde entre os galhos densos. Um peixe arremessa o corpo fora da água, criando círculos que se expandem devagar. 

De repente, seus olhos captam algo singular. O reflexo da mata surge no rio — uma pintura viva, um mosaico de cores e formas que se movem com a correnteza. O céu, coberto por nuvens esparsas, emoldura a paisagem com tons dourados e azulados. Mas o que o impressiona é mais do que a paisagem: é o que a floresta diz. Ele sente uma presença, como se a própria essência da mata o observasse, o reconhecesse.

Turyesy murmura uma prece em sua língua ancestral. Para ele, a mata não é apenas um lugar; é um espírito vivo, um guardião de memórias e histórias antigas. Ele sente que a floresta retribui sua reverência — o vento sopra mais suave, o som dos pássaros se harmoniza, e até as águas do rio parecem cantar em resposta.

Enquanto continua sua jornada, Turyesy se perde no momento. Ele não está apenas navegando; está em comunhão com o coração pulsante da floresta. A cada remada, ele reafirma o pacto silencioso entre homem e natureza, onde o respeito mútuo e a harmonia são os verdadeiros guias. A mata o abraça, e ele segue, consciente de que é parte de algo muito maior — um mundo onde segredos se revelam apenas para aqueles que sabem ouvir.

- Curupira e outros Seres só de olho no rapaz!

FIM 


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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0363


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