DONA PACALINA Nº 017

Numa vila de Maracanã existe uma fazendola de nome chistoso “Paca da Estrada”. Sinceramente eu não entendia qual seria o motivo da alcunha indiscreta da referida propriedade. Um dia, numa viagem a cavalo para uma visita próxima ao município, aproveitei para apreciar de perto a famosa fazendola. Neste dia. O sol não buscou esconder-se deste que vos narra nestas entrelinhas.
No caminho para a fazenda deparei com alguns coniventes de copo e algumas senhoras esfregando as panelas na areia do igarapé da estrada. Enfim chego na “Paca da Estrada”. Parei na porteira e soltei um grito de aboio de chegada. Rapidamente surgiu na varanda cheia de samambaias e bromélias a silhueta de uma senhora. E sem perder tempo arrebentei a frase: - Bom dia! Tenho muita sede senhora! A senhora olha-me de longe e discursa em tom seco: - Tem o boteco do Antônio logo lá na frente! Fiquei admirado com a resposta da senhora que parecia ter uns setenta anos. No encadeamento, a mesma grita:
- Vem entra!
- Vê se tu “fechas” direito esta porteira!
Rapidamente apeei do cavalo e procurei o ferrolho da porteira de Angelim. Acho que passei quase dois minutos para achar a tal fechadura. Enfim, consegui entrar na pequena fazendola. Não entrei na varanda, aguardei que a senhora me chamasse para eu “achegar no recinto”. E dito efeito, lá vinha ela com uma moringa de alumínio e pediu-me para que eu adentrasse na morada. Agradeci e peguei de suas mãos a vasilha de água e o copo. Após saborear a hidratação, direcionei a palavra à senhora e narrei que nunca havia tomado uma água tão doce. Passei a mão na boca e agradeci novamente. Neste argumento, com muito cuidado, aproveito o ensejo para perguntar o sentido do nome de sua fazendola. Ela respondeu serenamente que não sabia o porquê de tal nome. Sem mais nada a investigar, acrescento que aquele lugar era muito bonito e novamente retrocedo com outra estratégia redigindo uma indagação:
- Acho que outrora deveria ter muitas pacas nesta região, não é mesmo senhora?
Sem resposta, pergunto qual era o nome dela e ela respondeu com um ar de agastamento que o seu nome era Pacalina. Juro que me segurei para não gracejar, mas por respeito prossegui a conversa:
- Querida Senhora quanto tempo ainda levo para chegar à próxima vila?
Com uma voz ainda mais grave a senhora contrapõe que eu estava atrapalhando os seus serviços domésticos e que ainda tinha que fazer o almoço para os filhos e que não tinha tempo pra ficar de “papo pro ar”. Assim, levei um “chute” de expressões de Dona Pacalina. Sem ação abanquei na estrada novamente. No caminho passei a pensar no termo “estrada” daquela senhora. Mais tarde, isto é, depois de dois anos, descobri através de uma conversa de pescaria que a Dona Pacalina já fora muito popular na Região Bragantina. Em sua mocidade era proprietária de bares na época da Maria Fumaça. Neste sentido, entendi a sofreguidão da senhora. Consecutivamente ando por aquelas bandas e sempre visito a referida dama. Como estilo de chegada, grito o aboio e peço aquele copo de água e indago igualmente o porquê do nome da fazendola. Atarantem, todas às vezes a Dona Pacalina sucessivamente reproduz a mesma resposta:
- Meu filho. Tu vais tomar essa água ou vai escrever um livro?

FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 017

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