* Nº 0253 - MAR DE PENSAMENTOS - SÉRIE: A POESIA DE MAYANDEUA
Alguém...
Com um olhar do horizonte escancarado,
Um chamado silencioso ecoava,
Como se o vento trouxesse em seu sopro
A ânsia de ver o mar.
Na terra, alguém sorria para as nuvens,
Enquanto o silêncio bordava um adeus em suas mãos,
Suaves como a pele de sua face,
Macias como as pétalas de uma flor recém-nascida.
Em suas cordas vocais,
Repousava o poder de cantarolar uma canção,
Uma melodia que dançava entre os segredos do tempo,
E no peito... ah, no peito!
Sempre repleto de estrelas cadentes,
Desejos que brilhavam antes de desaparecer,
Promessas feitas ao universo,
Esperando pacientemente outra estação.
Da terra que ostentava seus passos,
Seus braços cresciam em força e coragem,
Como galhos que se esticam para alcançar o céu.
Luas de cetim vagueavam em seus pensamentos,
Reflexos prateados que iluminavam sua mente,
Enquanto, em sua estante,
Livros de origami guardavam histórias dobradas,
Segredos escondidos em cada vinco.
Em sua exposição da Arte,
Centenas de barcos, navios e canoas
Descansavam, imóveis, mas vivos em sonhos.
Todas as peças, um dia, sentiriam o mar,
Mesmo que fossem apenas criações de papel e memória.
Na sequência de seu cotidiano,
Entre terras e pó,
Ela batizava seus brinquedos no começo da noite,
Sob luas de cetim que pareciam abençoar sua liberdade.
Regras? Não havia muitas,
Apenas o desejo de viver em plenitude,
O bel-prazer das ondas que desfiavam devaneios distantes,
O heroísmo de quem sonha com o infinito.
Sonhava com o dia em que veria o mar,
Quem sabe até nadar,
Perdendo-se entre os barcos do mundo,
Pescando não só peixes, mas histórias,
Realizando proezas com sua voz,
Seu instrumento mais fiel.
E o tempo passava...
Alguém, em algum quintal esquecido,
Guardava o mar em garrafas,
Ali, seus oceanos e mares eram infinitos,
Um santuário de fantasias líquidas.
Satisfatoriamente, aquele era o seu lugar,
Onde o impossível tornava-se possível.
No seu quarto,
Um ambiente de borboletas e casulos,
Metáforas de transformações silenciosas.
No seu quintal,
O mar que sempre estaria por lá,
Não importava o quão longe o verdadeiro mar pudesse estar.
Em outros sonhos possíveis,
Imaginava ter mil garrafas,
Cada uma contendo um pedaço de si mesma,
Um fragmento de suas memórias,
Um eco de algo que nunca tocou, mas sentia profundamente.
Nos momentos de saudade,
Nos instantes em que o vento do mar parecia ausente,
Colocava o ouvido nos gargalos das garrafas,
E ali ficava, ouvindo o som do mar que nunca conheceu.
Por vezes, quando a tristeza visitava,
Derramava o mar em suas mãos,
E em seus dedos a poesia nadava,
Livre, sem destino,
Mas carregada de significados que ela não sabia nomear.
Não precisava nadar,
Apenas carecia de narrar algo que não entendia,
E a saudade criava ondas,
Que lhe ensinavam a cantar.
E no olhar do horizonte escancarado,
Por entre as ondas de garrafas,
Sua vida passava,
Cheia de sonhos que ainda não haviam encontrado o mar.
Com suas mil garrafas de som do mar,
Estava sempre alguém ali à espera,
Alguém que guardava o mesmo anseio,
O mesmo desejo de encontrar o único e verdadeiro mar...
O nome da ilha soava como uma promessa,
Um destino traçado nas águas do tempo,
Um chamado ancestral que ecoava em sua alma.
Para este alguém o lugar seria finalmente real,
Onde as ondas abraçariam seus pés descalços,
Onde os sonhos deixariam de ser guardados em garrafas
E se tornariam parte do infinito azul.
E assim, com o coração cheio de esperança,
Ele continuava a sonhar,
Sabendo que, um dia,
O mar viria ao seu encontro.
Mayandeua!
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0253