N° 0937 - FLOR DO MANGUE - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA



O mangue, um reino de mistério e aroma salgado, guarda segredos para quem se aventura a escutar. Numa tarde , entre o ir e vir das marés, ela se revela: a flor do mangue, pequena, mas nobre, desafiando as raízes ao seu redor. Seu silêncio reverbera no movimento delicado de suas pétalas, um espetáculo íntimo para os que contemplam. A brisa carrega seu perfume único, indomável, impregnando o ar com doçura.

O mangue, com sua alma salobra e aroma terroso, sempre me pareceu um lugar de segredos sussurrados. Em uma manhã preguiçosa, como um convite silencioso, deparei-me com ela: a flor do mangue. Erguia-se pequena, mas majestosa, um desafio à aparente rusticidade do seu entorno.

O silêncio era quase palpável, quebrado apenas pelo som dos japiins distantes. Um espetáculo íntimo, reservado aos que se permitem contemplar sem pressa. A brisa, cúmplice, espalhava seu perfume único, uma doçura selvagem que nenhum frasco de la France jamais capturaria.

Havia algo de sagrado em sua lentidão ao desabrochar, como se cada movimento fosse uma reverência à vida. Talvez por isso as abelhas a amavam tanto. Em seu balé incessante, não apenas coletavam o néctar, mas participavam de um ritual, encontrando ali um propósito maior. Na abertura, um gesto de reverência à vida. As abelhas, em balé sutil, parecem compreendê-la, participando de um ritual que as preenche. Elas não apenas colhem o néctar, mas também compartilham um entendimento da essência da flor.

A geada matinal veste o mangue de frio, e a flor a aceita como parte de si. Gotas de orvalho pendem de suas pétalas, aguardando o sol ou um toque gentil. O mangue, avesso à pressa, guarda histórias não contadas em cada gota. A geada, outrora vilã, torna-se cúmplice da beleza, realçando a singularidade da flor em seu manto. Numa troca silenciosa, flor e abelha renunciam ao passado, criando algo inédito. O néctar, com sabor de mangue, sal, terra e vida, é o deleite das esperando o calor do sol ou o toque suave de uma mão.

Mas o mangue não se apressa. Cada gota continha um segredo, uma história a ser decifrada por quem soubesse olhar além da superfície. Assim, o mangue suspira, impregnado de mel, evocando memórias de outras tardes. A cena, convida à contemplação da beleza  da flor. A dança silenciosa entre a flor e as abelhas, realçando sua singularidade em um abraço gelado e quente ao mesmo tempo (temperado). Era uma troca silenciosa. Mas quem vê e ouve sai transformado, com nova compreensão da vida e suas conexões. A flor do mangue transcende sua forma, tornando-se metáfora da beleza que floresce nos lugares mais inesperados. Ela ensina sobre a passagem do tempo e a importância de valorizar os momentos preciosos. 

A flor do mangue nos convida a desacelerar, a observar com atenção e a valorizar os momentos mais preciosos, que nos rodeiam.Movimentos precisos, artísticos, o mangue, uma sinfonia de sal, terra e vida.

- Flores de Mayandeua!


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius N° 0937


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