Nº 0917 - WILLOW: A JIA GUARDIÃ - SÉRIE: FÁBULAS DE MAYANDEUA

 


Nas matas de Mayandeua, onde o vento trazia recados do mar e as árvores guardavam memórias do mundo, vivia uma jia especial chamada Willow. Seu nome era eco de raízes distantes, de uma linhagem de viajantes encantados que, desde os tempos antigos da África, cruzavam continentes pelos portais invisíveis do Universo, trazendo sabedorias, canções e curas por onde passavam. Eram as jias do tempo antigo — guardiãs dos segredos entre o céu e o mar.

Mayandeua era seu lar atual, uma ilha onde uma pedra chorava perto de uma vila de pescadores. Diziam os antigos que a pedra guardava as pegadas da primeira jia que ali chegou trazendo sementes de sagradas árvores, dando origem à energia vital de alguns solos da ilha  Era essa energia que nutria as árvores — bacurizeiros, andirobas e mangueiras — cujos troncos revestidos de musgo não apenas respiravam, mas lembravam de suas viagens em tempos passados pela África.

Willow, diferente de suas irmãs que dançavam nas lagoas ou brincavam entre as flores, tinha uma sede antiga em seus olhos. Era como se sua alma, tecida nas areias do Saara e nos rituais das savanas, houvesse nascido para buscar aquilo que os olhos comuns não veem :a verdade através das folhas das mangueiras da ilha. Esta, explorava os cantos ocultos da mata, escutava as pedras, lia os rastros dos bichos, compreendia os silêncios. E foi numa de suas andanças que encontrou, sob raízes gigantes, uma caverna ancestral, coberta de musgo e encrustada de desenhos que contavam histórias com símbolos. Ali estavam os registros das jias nômades, viajantes de luz, e os pactos feitos com os encantados de Maya.

Mas Willow sabia: nem todo saber deve ser exposto, pois há verdades que florescem melhor no silêncio. Com o tempo, Willow tornou-se a sombra que vigiava a ilha. Caminhava sem som, lia os ventos, e percebia quando algo fugia do equilíbrio. Foi numa dessas tardes, quando o mar recitava seus poemas de carimbó, que ela ouviu vozes humanas. Intrusas. Desavisadas. Curiosa e atenta, Willow ocultou-se entre as folhas e viu — homens com materiais de ganância, buscando tesouros que não compreendiam.

Com a sabedoria de mil vozes que ecoavam dentro de si, Willow não enfrentou com força, mas com encantamento. Fez com que os caminhos se embaralhassem, que os sons da mata desorientassem os visitantes. Levou-os de volta à praia, sem que soubessem o porquê de sua desistência. A mata, sob sua tutela, permaneceu intacta.

De volta à sua clareira, Willow observava. Sabia que sua missão era eterna, pois a harmonia de Maya  exige sentinelas invisíveis. Ela não era apenas uma jia da ilha. Era o elo entre mundos. Guardiã dos saberes, fiandeira dos tempos e defensora dos mistérios que vivem entre os sons das folhas e o sussurro das águas  onde só Mayandeua e Algodoal possuem.  

Moral da história: Quem guarda o saber com humildade e escuta a voz da terra, entende que a verdadeira força está naquilo que permanece invisível aos olhos e essencial à harmonia dos mundos dos Encantados.

- Primolius narrou esta fábula lá  "pelas"  bandas de Nazaré.  


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0917


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