* Nº 0211 - O CHAMADO DE LENA - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA

 


Escondido no centro  de uma mata antiga em Mayandeua, repousava o Vale da Lua, um lugar calmo onde a natureza e seus habitantes viviam em harmonia, seguindo os ensinamentos ancestrais e as lendas contadas à luz do fogo, como a dos Guardiões Prateados da Lua, seres mágicos protetores da mata que vinham de um lugar misterioso através de portais secretos de Maya. Com o passar dos anos, a lenda quase se esvaiu, mas quando o vale começou a perder sua beleza, Lena, uma jovem que guardava as palavras de sua avó sobre a magia de Mayandeua e os Guardiões, sentiu um chamado profundo. Numa noite iluminada pela lua cheia, guiada por um brilho prateado, Lena descobriu uma clareira encantada onde dançavam os Guardiões Prateados, e para sua surpresa, percebeu que ela também pertencia a eles. Os Guardiões explicaram a tristeza que tomava conta da natureza e a missão de Lena de levá-los à Pedra Chorona, um lugar sagrado do vale, para restaurar a energia da terra com a magia ancestral de Mayandeua.

Cheios de esperança, Lena guiou os Guardiões pela mata escura até a Pedra Chorona. Mas ao chegarem, uma visão perturbadora os aguardava. Homens rudes, com ferramentas barulhentas, estavam arrancando grandes pedaços da rocha sagrada. A pedra, que antes vibrava com uma energia suave e constante, agora parecia ferida e silenciosa. Um calafrio percorreu Lena, e a alegria dos Guardiões se transformou em espanto e preocupação.

O líder dos Guardiões Prateados, um ser alto com olhos que brilhavam como a própria lua, ergueu as mãos. Um murmúrio baixo começou a emanar dele, como o som do vento passando pelas folhas dos mangueiros a sua volta, mas carregado de uma energia antiga e poderosa de Mayandeua. O ar ao redor da Pedra Chorona começou a vibrar, e uma névoa prateada se formou, envolvendo a área como um véu misterioso. Os homens pararam o que estavam fazendo, confusos e desorientados pela repentina mudança na atmosfera.

“Este lugar é sagrado”, disse o líder dos Guardiões com uma voz que ecoava pela clareira envolta em névoa. “Não permitiremos que a profanem.”

Enquanto a névoa se adensava, sons estranhos começaram a ser ouvidos, como o choro distante da própria pedra e o murmúrio de vozes antigas de Maya. Os homens largaram suas ferramentas, tomados por um medo inexplicável, e recuaram, perdendo-se na neblina que parecia guiá-los para longe da Pedra Chorona. Quando a névoa finalmente se dissipou, os homens haviam desaparecido, e a Pedra Chorona, embora marcada, parecia respirar mais aliviada. O líder dos Guardiões olhou para Lena com um brilho triste nos olhos.

“Nós viemos através dos portais para ajudar este lugar, pois sentimos o chamado da natureza de Mayandeua. Mas a escuridão do mundo de fora também alcançou este vale”, disse ele. “Se o equilíbrio quiser ser restaurado completamente, a ligação com o seu mundo deve ser mantida.”

Ele tocou a testa de Lena com um dedo frio como a prata. “Você agora caminha entre os dois mundos. Sua jornada aqui cumpriu um propósito. Para proteger este vale verdadeiramente, você deve retornar ao seu mundo de fora e encontrar maneiras de impedir que essa ganância e essa destruição cheguem aqui novamente.” Uma sensação de tristeza invadiu Lena, mas ela sabia que as palavras do líder eram sábias. Seu tempo com os Guardiões Prateados no Vale da Lua havia chegado ao fim, por ora. Ela era a ponte entre os dois mundos, a guardiã de um segredo e a portadora da esperança de Mayandeua para o Vale da Lua. Com o coração cheio de mistério sobre o que o futuro lhe reservava e a promessa de um dia retornar, Lena se preparou para deixar o Portal  e os Guardiões Prateados, levando consigo a responsabilidade de proteger aquele lugar mágico do mundo de fora.

Com um último olhar para os Guardiões Prateados, que agora emanavam uma luz suave e protetora em direção à Pedra Chorona, Lena se virou. Um caminho sutil, antes invisível, se abriu à sua frente, guiando-a para as bordas da clareira encantada. Ela podia sentir a energia dos portais, fios invisíveis de magia que conectavam o Vale da Lua ao seu lar. Uma mistura de saudade e determinação preencheu seu coração. Ela sabia que sua missão não terminava ali, mas apenas mudava de cenário. Levaria consigo a lembrança da dança prateada sob a lua, o murmúrio da magia de Mayandeua e a responsabilidade de ser a protetora secreta do Vale da Lua no mundo exterior. Com um último suspiro do ar puro e mágico do vale, Lena atravessou o limiar invisível, deixando para trás o Portal e os Guardiões Prateados, mas levando em sua alma a promessa de um retorno e a força para lutar pela preservação daquele lugar sagrado, onde a magia da lua e a esperança de Mayandeua encontraram um lar.

- Quem sabe uma nova Esperança!


FIM


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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0211


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