* N° 0910 - ATITUDES DA IMAGINAÇÃO EM MAYA - CONTO
Sobre o solo fértil da existência humana, florescem as atitudes da imaginação, um fenômeno tão antigo quanto o próprio tempo. Desde os primeiros passos da humanidade, o homem, consciente de sua fragilidade e finitude, busca deixar sua marca, seus rastros na poeira dos caminhos que percorre. Cada passo, cada escolha, é carregado de memórias, de sonhos guardados, e de esperanças que teimam em resistir às adversidades. Somos, de certa forma, andarilhos de uma genética sentimental, moldados pelas emoções que fluem através das gerações. Quando a noite desce sobre a terra, trazendo consigo o manto silencioso das estrelas, a natureza repousa em uma calma quase sagrada. A brisa suave parece carregar consigo sussurros ancestrais, revelando verdades escondidas nos recantos da alma humana. As porteiras que guardam esses recantos se abrem apenas para os que têm coragem de confrontar suas próprias profundezas. É neste silêncio contemplativo que a imaginação começa a se mover, renovando promessas e sonhos sob a luz tímida das primeiras horas da madrugada.
Então o sol desponta, dourando as vastas planícies da nossa vida. Sua luz, quente e acolhedora, ilumina as estradas poeirentas que trilhamos, trazendo esperança e clareza. Tal como as sementes que brotam nas duas após uma longa estação de inverno, nossos desejos e aspirações começam a emergir, tomando forma sob o olhar atento da natureza. No entanto, mesmo em meio a essa serenidade, surge uma pergunta inquietante, uma sombra que paira sobre o nosso contentamento: Como podemos apreciar essas manifestações de beleza e de vida se constantemente nos deparamos com o caos, a inquietude e os conflitos do mundo ao nosso redor? A realidade, com sua frieza, nos desafia diariamente. Às vezes, a crueza da vida se manifesta como um vendaval que sopra sobre as paisagens tranquilas da nossa alma, despertando tempestades internas. São esses momentos de crise e confronto que nos fazem questionar nossa própria existência, nossa relação com o mundo. A desorientação, por mais assustadora que seja, traz consigo a oportunidade de refletir sobre quem somos e para onde estamos indo.
No entanto, é justamente nesse embate entre a realidade e a imaginação que a essência da experiência humana se revela. A superação dos obstáculos e das adversidades não só mede nossa força e resiliência, mas também nos coloca frente a frente com nosso potencial criativo. É nesse confronto que a imaginação se ergue, poderosa e transformadora. Ela transcende os limites que o mundo nos impõe, abrindo caminhos inexplorados e sugerindo novas formas de ver e de ser. A imaginação torna-se então uma aliada valiosa, uma força interior capaz de criar novos horizontes e possibilidades, mesmo nos momentos mais sombrios. Permitir-se sonhar, criar, e reinventar a realidade é um ato de liberdade — e talvez o maior de todos. A imaginação nos liberta das correntes do óbvio, permitindo-nos enxergar a poesia escondida no cotidiano, transformar o banal em sublime, o ordinário em extraordinário.
A terra, com sua poeira e suas estradas sem fim, é testemunha silenciosa dessa jornada contínua. Cada passo dado, cada semente lançada ao solo, é uma manifestação tangível da nossa capacidade de sonhar e construir algo novo. Através das atitudes da imaginação, tornamo-nos arquitetos de um futuro melhor, moldando o mundo não apenas com nossas mãos, mas com nossos corações e mentes. Seguimos adiante, guiados pela luz persistente da esperança, sabendo que, por mais violentas que sejam as tempestades, sempre haverá um novo amanhecer à espera de ser descoberto. No fim, a verdadeira beleza da vida reside na capacidade de imaginar — de ver além das limitações do visível e de transformar cada novo dia numa oportunidade de florescimento. As atitudes da imaginação são o solo fértil onde plantamos nossos sonhos, e é através delas que a vida se renova, lembrando-nos, constantemente, de que somos eternos viajantes, sempre à procura de novos horizontes, sempre à espera do próximo milagre, da próxima descoberta.
- Assim Maya floresce as estradas de muitos viajantes...
- A sina: Escrever!
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0910