* N° 0902 - O ÚLTIMO PEIXE XARÉU - CONTO AMBIENTAL

 


Uma história para o futuro...

Nas profundezas dos recifes de coral, onde o azul do oceano se mistura com o brilho multicolorido, corria uma antiga hiatória sobre o último xaréu A criatura era descrita como imponente e majestosa, suas escamas reluziam sob a luz do sol, criando uma dança hipnotizante de reflexos que faziam o mar parecer coberto por joias líquidas. Antigamente abundante, o xaréu se tornara raro ao longo dos anos, e muitos acreditavam que ele havia desaparecido por completo. No entanto, a esperança de encontrar o último exemplar desse ser lendário persistia entre os pescadores e os habitantes da costa de Maya.

Santiago, um homem de idade avançada, conhecido por sua habilidade e paciência no mar, era um dos poucos que ainda acreditava na existência do peixe. Para ele, o xaréu não era apenas uma criatura para ser capturada, mas um símbolo de equilíbrio entre o homem e a natureza. Todas as noites, ao pôr do sol, ele se dirigia ao recife em seu pequeno barco, ouvindo o murmúrio das ondas e o vento que soprava levemente. Ele sentia que havia algo de especial naquela noite. A maré estava calma, as estrelas começavam a aparecer, criando uma abóbada celestial sobre o mar tranquilo.

Santiago lançou sua rede com precisão, mas desta vez não era a força de seus braços que guiava o movimento. Era o coração que pulsava com a certeza de que a lenda estava próxima. De repente, ele viu um brilho sob a superfície das águas. Não era o reflexo comum da lua ou das estrelas. Era algo mais intenso, algo que parecia surgir das profundezas, como uma jóia viva. Ele soube imediatamente: era o peixe!  O último xaréu emergiu das profundezas, nadando em círculos graciosos ao redor do barco de Santiago. Suas escamas pareciam feitas de prata líquida, refletindo todas as cores do céu e do oceano ao seu redor. Seus olhos, grandes e serenos, encontraram os de Santiago. Nesse momento, o pescador compreendeu que estava diante de algo muito maior do que uma simples captura. O xaréu não era apenas o último de sua espécie, ele era um guardião silencioso da sabedoria dos mares, o elo que mantinha a harmonia entre as criaturas marinhas e a humanidade.

Santiago, tomado por um profundo sentimento de respeito, abaixou sua rede. Ele sabia que, naquele instante, tinha uma escolha a fazer. Poderia capturar o peixe e se tornar uma lenda entre os homens, ou poderia deixar o xaréu continuar seu curso natural, preservando a magia e o mistério que envolvia aquela criatura extraordinária. Escolheu a segunda opção.

Ele ficou ali, observando enquanto o Peixe Xaréu se afastava lentamente, nadando com a mesma majestade com que surgira. O brilho prateado das escamas foi desaparecendo nas profundezas, até que restou apenas o silêncio do mar. Santiago sentiu-se privilegiado, não por ter capturado o peixe, mas por ter testemunhado a sua grandeza. Ele sabia que a verdadeira riqueza daquela noite não estava em possuí-lo, mas em permitir que ele continuasse a existir livremente.

Quando retornou à vila conhecida por Camboinha, Santiago não falou de glória nem de conquistas, mas compartilhou com seus conterrâneos. A notícia  se espalhou pela  comunidade costeira, e logo todos conheciam a história de Santiago e o peixe. As crianças escutavam com olhos arregalados, encantadas pela ideia de que, nas profundezas do mar de Maya, nadava um peixe mágico que só poderia ser visto por aqueles que entendiam o verdadeiro valor da natureza. A vila se mobilizou. Pescadores, biólogos marinhos e até os mais jovens formaram uma aliança para proteger as águas ao redor. Novas regras foram implementadas, limitando a pesca nas áreas mais sensíveis e incentivando o turismo sustentável, onde os visitantes poderiam contemplar a beleza natural sem prejudicar o  ecossistema.

Anos depois, quando Santiago já havia partido para o grande oceano das  nuvens, sua história se tornou uma lição de sabedoria para as futuras gerações. E assim, o Peixe Xaréu continuou nadando livremente nas águas  de Maya , símbolo eterno de um mundo onde a natureza e o ser humano podiam coexistir em harmonia. Uma história que, geração após geração, ecoaria como o som das ondas batendo suavemente nas praias, lembrando a todos que a verdadeira riqueza está em preservar o que é mais precioso. A própria Vida!


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0902


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