* N° 0894 - O VOO DE CYELUS COM O VENTO - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA
A andorinha Cyelus chegou de terras distantes, suas asas cansadas de atravessar tempestades e vastidões. Voou até os limites da ilha de Mayandeua, onde o vento de fora soprava com a força de quem traz segredos e esperanças do oceano. Ali, no alto de um telhado de palha, Cyelus pousou. Estava só, como sempre estivera, mas naquele instante, sentiu que o vento sussurrava seu nome, um convite antigo que ela ainda não entendia.
“O que te trouxe aqui, pequena viajante?”, murmurou o vento, envolvendo suas penas com seu hálito frio e úmido. Cyelus, sacudindo a chuva que começava a cair, ergueu os olhos para o vasto céu de nuvens pesadas.
“Busco algo que nunca encontrei. Um destino que me faça sentir menos só, talvez”, respondeu ela, com a voz de quem carregava muitos invernos nas asas.
O vento de fora riu, um riso suave que fez as palmeiras se inclinarem. “E por que pensa que encontrará isso aqui, na beira do mundo? Somos todos sozinhos na vastidão. Eu, que viajo sem lar, sem descanso, sem fim. E você, que voa sempre em busca de algo que não pode nomear.”
Cyelus fechou os olhos, sentindo as gotas de chuva caindo, cada uma um pequeno toque de vida. “Talvez seja isso, vento. A busca é o que me faz voar. É a necessidade de sentir que estou em movimento, que faço parte de algo maior.”
“E acaso eu não faço o mesmo?” retrucou o vento. “Eu me lanço de encontro às ondas, às árvores, às montanhas... Sempre buscando. Sempre tocando, sem jamais possuir. O que me separa de você, Cyelus?”
“Talvez nada”, murmurou a andorinha. “Talvez sejamos companheiros de solidão, destinados a seguir em frente, sempre. Mas... há algo de belo nisso, não há?”
O vento de fora silenciou por um momento, como se ponderasse. Então, acariciou as penas da andorinha com uma ternura inesperada. “Sim, há. A beleza de sermos parte do todo. De sermos levados e levadores. Somos o mesmo impulso, Cyelus. Você, com suas asas, eu, com minha brisa. Nós desenhamos o destino juntos, mesmo sem sabermos o caminho.”
A chuva, então, se intensificou, e Cyelus sentiu-se mais leve, como se suas perguntas fossem lavadas pela água. “Então, vento de fora, dançaremos juntos nesta jornada?”
“Sim, dançaremos. Até onde o horizonte nos permitir, até onde o mundo tiver espaço para nossos sonhos.”
E assim, a andorinha Cyelus ergueu voo mais uma vez, com o vento de fora de Mayandeua seguindo ao seu lado. Não eram mais estranhos, mas cúmplices de uma viagem eterna, em que a solidão se transformava em canção, e o destino se fazia um com a natureza que os envolvia.
Poema-Canção
Vento de fora, andorinha,
Num céu que não tem fim,
Cruzam juntos as fronteiras,
Dançam leves, assim.
O mar murmura em segredo,
A lua se esconde e ri,
No voo da andorinha,
O vento também sorri.
De onde vêm, ninguém sabe,
Para onde vão, quem dirá?
São os sonhos do infinito,
No silêncio do luar.
Canta, Cyelus, tua sina,
Canta, vento, teu desejo,
Que a vida é breve canção,
Em cada sopro e lampejo.
E quando a noite vier,
E a solidão se aflorar,
Serão juntos, um só corpo,
Vento e ave a bailar.
O destino não é pouso,
Nem o caminho final,
Mas a dança do momento,
No abraço do vendaval.
- Mayandeua que fala! Assim narrou Primolius.
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0894


