*Nº 0871 - O CAIPORA DAS FOLHAS DO MANGUEIRO - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA
Na pequena vila de pescadores de Camboinha, à beira do rio, vivia um homem chamado Dertys. Conhecido por sua falta de sorte, Dertys era frequentemente chamado de "caipora" pelos moradores, numa alusão ao espírito da floresta que trazia azar. Por mais que tentasse, Dertys sempre parecia se deparar com obstáculos intransponíveis. Suas redes de pesca raramente traziam peixes, e sua horta nunca florescia como as dos vizinhos. Certo dia, durante uma conversa no bar da vila, Dertys ouviu seu amigo Coronel Berimbau falar sobre suas próprias desventuras com a sorte. "Dertys, você sabia que eu passei um ano inteiro apostando no jacaré no jogo do bicho, e nunca tive sucesso? A sorte parecia fugir de mim como um pássaro assombrado. Mas um dia, decidi mudar e apostei no veado. Para minha surpresa, finalmente ganhei. Talvez seja isso, amigo, às vezes, precisamos mudar o jeito de encarar a vida para que a sorte nos encontre."
Essas palavras ficaram na mente de Dertys. Inspirado pela história de Berimbau, ele começou a pensar que talvez o problema não estivesse apenas em sua má sorte, mas em como ele lidava com ela. Decidido a mudar seu destino, Dertys lembrou-se das histórias antigas que seu avô contava sobre o Caipora, um espírito selvagem com a forma de porco, que habitava as florestas e controlava a sorte dos homens. Se alguém sabia como transformar a sorte, era o Caipora.
Determinando a encontrar o espírito, Dertys partiu para a floresta. Ele caminhou por horas, adentrando cada vez mais a mata fechada. Passou por mangueiros altos e densos, com folhas largas e brilhantes que pareciam sussurrar segredos antigos. Já exausto, ele finalmente avistou uma clareira iluminada pela luz do entardecer. No centro, havia um porco estranho, com uma aura mística ao seu redor. Era o Caipora das Folhas de Mangueiro.
O Caipora olhou para Dertys com olhos penetrantes e perguntou: "Por que você veio me procurar, humano?"
Dertys, com o coração acelerado, respondeu: "Senhor Caipora, sou conhecido na vila por minha falta de sorte. Venho pedir sua ajuda para mudar meu destino."
O Caipora soltou um grunhido que ecoou pela clareira. "A sorte é uma coisa caprichosa, humano. Ela não se entrega facilmente. Mas, talvez, eu possa te ensinar um novo modo de pedir as coisas."
Curioso, Dertys perguntou o que deveria fazer. O Caipora explicou: "A sorte não responde ao desespero, mas sim ao respeito e à conexão com a natureza. Vá até os mangueiros, colha algumas folhas e traga-as até mim." Dertys obedeceu, recolhendo cuidadosamente as folhas mais frescas e verdes dos mangueiros. Ao retornar, o Caipora disse: "Agora, espalhe estas folhas ao vento e faça um pedido com o coração puro. Não peça por riqueza ou sucesso imediato. Peça por força, paciência e sabedoria."
Dertys fez como foi instruído. Espalhou as folhas ao vento e, com o coração sincero, pediu por força para continuar, paciência para esperar o momento certo e sabedoria para tomar boas decisões. O Caipora observou em silêncio e, ao final, desapareceu na floresta, deixando apenas um leve rastro de luz. De volta à vila, Dertys sentiu-se diferente. Continuou sua vida, mas agora com uma nova perspectiva. Ele não ganhou na loteria, nem encontrou tesouros escondidos, mas começou a perceber pequenas mudanças. Suas redes de pesca, antes sempre vazias, agora traziam peixes suficientes para sustentar sua família. Sua horta, que nunca dava frutos, começou a florescer. E, acima de tudo, Dertys sentia uma paz interior que nunca havia experimentado.
O tempo passou e Dertys se tornou conhecido não mais como um caipora, mas como um homem sábio e paciente. Ele compartilhou sua história com os outros, ensinando que a sorte não era algo que se podia forçar, mas algo que se cultivava com respeito e paciência. E assim, na pequena vila à beira do rio, a lenda do Caipora das Folhas de Mangueiro foi passada para muitos, lembrando a todos que a verdadeira sorte vem do coração e da harmonia com a natureza.
- E assim foi narrado por uma cutia esta história!
- Primolius que disse!
FIM
Copyright de Britto, 2022
Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0871