* Nº 0858 - CANTO DE BALEIAS - SÉRIE: CONTOS DE MAYANDEUA
Na ilha de Mayandeua, os primeiros raios do sol começavam a iluminar o horizonte, anunciando o nascimento de um novo dia. Mangueiros e coqueiros, imponentes e serenos, erguiam-se majestosos contra o céu, criando uma sinfonia natural que envolvia a ilha inteira. Era nesse cenário que o sabiá, com seu canto melodioso, saudava a manhã, enchendo o ar com uma música doce e encantadora.
As crianças, despertando lentamente de seus sonhos, corriam para fora de suas casas, ansiosas para iniciar mais um dia de aventuras. Naquele dia, no entanto, uma visão nunca antes vista as esperava. Uma enorme baleia havia encalhado na praia, sua imponente presença misturando-se com a beleza natural do local. A baleia estava viva, mas claramente em apuros, e seu lamento ecoava suavemente pelo ar, capturando a atenção e os corações das crianças. Rapidamente, as crianças chamaram os adultos da ilha, que vieram prontamente. Todos se uniram em uma missão de resgate, formando uma corrente humana para tentar ajudar a baleia a voltar para o mar. No entanto, mesmo com todos os esforços, a baleia era grande demais para ser movida apenas pela força humana.
Foi então que algo mágico aconteceu. Os golfinhos, que frequentemente brincavam perto da costa, começaram a chegar em grandes números. Parecia que eles também queriam ajudar a sua amiga gigante. Juntos, humanos e golfinhos trabalharam em sincronia, usando cordas e muito esforço coletivo. Enquanto a operação de resgate continuava, um dos mais velhos da ilha, conhecido por suas histórias e sabedoria, contou uma antiga lenda aos mais jovens. Segundo ele, as baleias eram guardiãs dos segredos dos oceanos, e ajudando aquela baleia, estariam protegendo não apenas a vida dela, mas o equilíbrio de todo o mar.
Após horas de esforço árduo, a maré começou a subir. Com um último esforço coletivo, a baleia foi finalmente devolvida ao mar. O enorme mamífero, agora seguro, nadou lentamente para águas mais profundas, mas não sem antes fazer uma série de saltos e acrobacias, como se estivesse agradecendo a todos que a ajudaram. Essa experiência tocou profundamente as crianças e os adultos da ilha. Naquela noite, em uma celebração ao redor de uma grande fogueira, todos compartilharam suas histórias e reflexões sobre o dia. As crianças, especialmente, estavam encantadas com o poder da cooperação e a magia que sentiam ao fazer parte de algo tão grandioso.
Os dias que se seguiram trouxeram uma mudança perceptível na ilha. As crianças, inspiradas pelo evento, começaram a explorar a natureza com um novo olhar de respeito e curiosidade. Descobriram cavernas secretas, onde encontraram pinturas rupestres que contavam histórias antigas da ilha. Descobriram também que algumas plantas raras, quando cuidadas com atenção, floresciam de forma espetacular, trazendo cores e fragrâncias nunca antes vistas.
Além disso, os habitantes de Mayandeua notaram que os golfinhos se tornaram ainda mais presentes e amigáveis, como se quisessem continuar aquela ligação especial. E um dia, enquanto brincavam perto do recife, as crianças encontraram algo inesperado: uma pequena concha, diferente de todas as outras, que brilhava com uma luz suave. Quando a pegaram, ouviram uma voz suave e antiga, agradecendo pela bondade e coragem demonstrada ao salvar a baleia. A voz revelou que a concha era um presente da Princesa de Maya, um símbolo de gratidão e um lembrete do vínculo entre a terra e o mar. Com a concha em mãos, as crianças sentiram uma onda de calor e alegria, sabendo que haviam feito parte de algo verdadeiramente especial.
E assim, Mayandeua continuava a ser um santuário de sonhos, onde a imaginação e a realidade se entrelaçavam de maneiras surpreendentes e maravilhosas.
- E no silêncio da madrugada, lá no mar, ouvia-se o canto das baleias!
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0858