*Nº 0829 - O CHAMA MARÉ DE ALGODOAL- MAYANDEUA - SÉRIE: CONTOS DE MAYANDEUA

 



O Chamá Maré era uma criatura afortunada, verdadeira estrela do mangue. Ele vivia em uma das minúsculas casas da árvore de mangue, rodeado de sombras e luzes. Não era um dia ou uma noite, mas um estar constantemente vivo, em harmonia com o ritmo do manguezal. Seu lar era um santuário de tranquilidade, onde o murmúrio das águas encontrava a sinfonia das folhas dançantes. Ele acordava com o nascer do sol, saudando o novo dia com um coração cheio de gratidão pela beleza que o cercava. O manguezal, com suas raízes entrelaçadas e águas serenas, era mais do que apenas um habitat; era um universo de vida pulsante e segredos ocultos.

Durante o dia, ele explorava os labirintos do manguezal, mergulhando nas águas mornas e investigando os recantos mais secretos. Cada raio de sol que penetrava entre as folhas dos magueiros era uma bênção, iluminando seu caminho e revelando os segredos do seu lar. Ele nadava entre cardumes de peixes cintilantes, observava caranguejos trabalhando diligentemente e acompanhava o crescimento das plantas aquáticas que sustentavam a vida ali.

O Chamá Maré não era apenas um habitante do mangue; ele era seu guardião silencioso. Com seus sentidos aguçados, ele percebia cada mudança, cada sutil variação no ambiente. Quando a maré subia, ele ajudava a proteger os filhotes de peixes e crustáceos, orientando-os para os lugares mais seguros. E quando a maré baixava, ele coletava pequenos detritos, mantendo o equilíbrio e a pureza das águas. À noite, ele se recolhia em sua pequena casa, embalado pelo suave balançar das marés e o canto das Sereias Ecantadas da ilha. Sob o manto de escuridão, ele refletia sobre o dia que passara, agradecendo pelas experiências vividas e sonhando com as aventuras que o esperavam no dia seguinte. As estrelas, brilhando através das copas dos magueiros, pareciam contar histórias antigas, segredos passados daqueles habitantes únicos onde as encantarias eram diárias. O Chamá Maré gostava de ouvir essas histórias, muitas vezes contadas pelo vento que sussurrava entre as folhas ou pelas ondas que quebravam suavemente nas raízes das árvores. Histórias de tempos antigos, de criaturas míticas que um dia habitaram aquelas águas, de como o manguezal surgiu e dos ciclos de renovação que ele passou. Cada história era uma lição, uma lembrança de que ele fazia parte de algo maior, uma teia intrincada de vida e harmonia.

Para o Chamá Maré, a vida no manguezal era um presente precioso, uma dádiva que ele valorizava a cada respiração. Ele era verdadeiramente afortunado por fazer parte desse ecossistema vibrante, onde cada momento era uma celebração da vida e da harmonia com a natureza. Ele entendia que seu papel era crucial na manutenção do equilíbrio daquele ambiente delicado, e se dedicava a isso com todo o seu ser. Assim, cada dia trazia novas descobertas e desafios. Em uma manhã, ele poderia encontrar uma nova espécie de planta aquática que nunca havia visto antes, ou descobrir um recanto escondido onde pequenos seres marinhos se abrigavam. Em outra, poderia precisar enfrentar uma tempestade que ameaçava desestruturar o equilíbrio do mangue, usando sua sabedoria e habilidades para proteger seu lar.

E assim, o Chamá Maré vivia sua vida, em perfeita comunhão com o manguezal. Ele sabia que, um dia, passaria seu conhecimento para a próxima geração, garantindo que o equilíbrio e a harmonia daquela biodiversidade continuassem intactos. Seu legado não seria apenas de proteção e cuidado, mas também de amor e respeito profundo pela natureza.

Cada pôr do sol, cada onda que quebrava, cada folha que caía, tudo fazia parte de uma dança eterna, uma celebração da vida que o Chamá Maré abraçava com todo o seu ser. E assim, ele continuava a brilhar como a verdadeira estrela do mangue, um símbolo de resiliência, sabedoria e harmonia com o mundo natural dos Ecantados de Algodoal - Mayandeua.

- E lá está  ele chamando a maré mais uma vez!


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0829


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