*Nº 0828 - AS CIDADES DE FORA EM ALGODOAL - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA

 

O sol já havia desaparecido no horizonte quando o homem, deitado no fundo da canoa, foi repentinamente assaltado por um arrepio violento. Erguendo pesadamente a cabeça com surpresa, percebeu-se subitamente melhor. A dor na perna era agora apenas uma leve incomodação, a sede diminuía gradualmente, e sua respiração tornava-se mais fácil, como se o ar ao redor ganhasse uma nova frescura. Era seis horas, um momento estranho entre o dia e a noite, enquanto ele se via perdido no meio das águas ainda iluminadas pela  luz crepuscular. O céu exibia um espetáculo de cores, com tons de laranja e rosa contrastando com a escuridão crescente das águas. Mas, apesar da beleza do cenário, uma sensação de inquietação começava a se apoderar dele.

O silêncio era opressivo, quebrado apenas pelo suave balanço da canoa e pelos sussurros do vento. Uma presença indefinível parecia pairar no ar, como se algo estivesse observando-o nas sombras aquáticas ao redor. O homem sentiu um calafrio percorrer sua espinha, uma sensação de desconforto que não conseguia explicar. Olhou ao redor, buscando por alguma pista do que poderia estar acontecendo, mas tudo o que viu foi o vasto horizonte de água e céu, e uma crescente sensação de que não estava sozinho.

A Luz Misteriosa

Subitamente, uma luz frontal apareceu, não parecendo ser de afronto, mas suave como um raio de sol em uma fresta. Era uma luminosidade etérea, quase onírica, que banhava a superfície das águas em um brilho prateado. E então, para sua surpresa, seres com grandes olhos emergiram ao redor da canoa, observando-o com uma curiosidade intensa e silenciosa. Suas formas eram esguias e graciosas, com uma bioluminescência suave que acentuava suas feições delicadas e intrigantes.

Da boca de um dos seres, veio uma voz suave, mas carregada de mistério, como o sussurro de segredos ancestrais. "Não deverias assustar-te, pois neste exato momento estás sendo protegido pelos seres do fundo", disse ele, suas palavras ecoando como um enigma nas águas tranquilas. Havia algo de hipnótico na entonação, uma cadência que transmitia segurança e serenidade, apesar da estranheza da situação.

Essa revelação despertou nele uma sensação de perplexidade e intriga, fazendo com que questionasse a própria realidade. Quem eram esses seres misteriosos que o rodeavam? Qual era o propósito por trás de sua aparição? Enquanto observava os olhos penetrantes dos seres do fundo, uma sensação de urgência e expectativa crescia dentro dele, como se estivesse prestes a desvendar um segredo milenar.

As águas ao redor da canoa pareciam pulsar com uma energia desconhecida, e o homem se viu envolto em um véu de suspense e fascínio. Cada detalhe, desde a luz suave até as palavras enigmáticas dos seres, contribuía para o mistério que envolvia aquele momento singular. Ele se lembrava de antigas lendas que mencionavam um lugar mítico, um reino submerso chamado as Cidades de Fora, onde seres antigos e sábios habitavam, guardando conhecimentos esquecidos pela humanidade.

A Revelação

Os seres, percebendo sua curiosidade e inquietação, começaram a se comunicar através de imagens e sentimentos, projetando visões diretamente em sua mente. Viu então paisagens subaquáticas deslumbrantes, repletas de cidades reluzentes construídas de corais e cristais. Viu criaturas majestosas nadando em harmonia, coexistindo em um mundo de paz e sabedoria.

"Estamos aqui para te mostrar que existe mais no mundo do que os olhos humanos podem ver", explicou o ser, com um brilho de compreensão em seus grandes olhos. "As Cidades de Fora são apenas um fragmento do que está além da percepção comum. Te convidamos a explorar esses mistérios, a expandir teus horizontes e a descobrir a verdadeira essência da vida."

Com essa revelação, o homem sentiu uma mudança profunda em seu ser. A inquietação deu lugar à determinação, e o medo foi substituído por uma curiosidade insaciável. Ele compreendeu que sua jornada estava apenas começando, que havia muito mais a ser descoberto além das fronteiras do conhecimento humano. Os seres aquáticos, percebendo sua aceitação e entusiasmo, sorriram de maneira quase imperceptível, como se aprovassem sua decisão. A luz suave ao redor deles começou a se intensificar, envolvendo a canoa em um casulo de brilho radiante. O homem, agora imbuído de uma nova coragem, fechou os olhos e se preparou para mergulhar no desconhecido, pronto para desbravar os segredos antigos e as possibilidades infinitas que o aguardavam.

A Travessia para o Desconhecido

Quando abriu os olhos novamente, o homem se viu em uma paisagem completamente diferente. As águas calmas e reflexivas haviam cedido lugar a um vasto oceano repleto de vida e movimento. O brilho das Cidades de Fora iluminava o horizonte, prometendo uma aventura sem igual. Ele sabia que sua jornada estava apenas começando e que cada passo o levaria mais fundo em um mundo de mistérios e maravilhas. Nesta nova realidade, ele se sentia em casa. Estava preparado para enfrentar desafios e desvendar segredos, guiado pela luz dos seres do fundo e pela sua própria sede de conhecimento. E assim, a canoa seguiu adiante, navegando pelas águas do desconhecido, enquanto o homem se tornava parte de uma história maior, uma história de descoberta, transformação e renascimento.

- Histórias de Algodoal! 

- Foi perto do lago da Princesa!


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0828


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