*Nº 0189 - BRINCANDO COM A LUA DE MOCOOCA - SÉRIE: CONTOS DE MAYANDEUA
Desde cedo, Mayan sentia uma atração inexplicável pela lua. Na infância, passava noites inteiras contemplando o firmamento, buscando nas suas nuances prateadas respostas para os mistérios do universo. Uma noite, impulsionada por um desejo de proximidade, decidiu brincar com a lua de um modo diferente. Pegou um pedaço de papel e desenhou um rosto sorridente, inspirado pela forma da lua cheia. Colocou a figura na janela de seu quarto, como um convite silencioso para uma dança noturna.
Naquela noite, a magia se fez presente. A lua, parecendo corresponder ao gesto de Mayan, irradiou uma luz ainda mais intensa, banhando o quarto com raios prateados que criaram sombras dançantes nas paredes. Fascinada, deixou-se levar por uma melodia suave que parecia surgir do brilho lunar, movendo-se graciosamente pelo quarto. Lua e Mayan dançaram em harmonia, girando sob o céu estrelado numa coreografia celestial. As estrelas, cúmplices da magia, cintilavam como aplausos silenciosos, em sincronia com os movimentos daquela moça. Por alguns instantes, o tempo suspendeu-se, e Mayan sentiu-se profundamente conectada ao universo, de um modo que nunca havia experimentado.
Quando o sol começou a despontar no horizonte, a dança chegou ao fim. A moça, ainda sob o encanto daquele momento, sorriu para a lua, grata por uma experiência tão única. Desde então, todas as noites, antes de adormecer, Mayan brincava com a lua, consciente de que naquele brilho constante encontrava uma amiga fiel, sempre pronto para guiá-la através das noites escuras e dos dias que nasceriam no futuro.
Certa noite de lua cheia, Mayan resolveu levar sua brincadeira a um novo patamar. Com argila e muita imaginação, esculpiu uma pequena réplica da lua em suas mãos. Moldou cada cratera e relevo com esmero, capturando a essência misteriosa da lua noturna. Ao concluir, ergueu sua criação em direção ao céu, como uma oferta à lua verdadeira. Para sua surpresa, a pequena lua de argila começou a brilhar suavemente, refletindo a luz prateada do alto. Mayan, incrédula, viu sua criação ganhar vida, tornando-se uma extensão do astro celeste.
Juntas, Mayan e sua lua de argila dançaram sob o luar, criando jogos de sombra e luz que enfeitavam as paredes da casa. Era como se a própria lua estivesse dançando através dela, compartilhando sua magia e mistério. Com o avançar da noite, a lua de argila começou a se desintegrar, transformando-se em pó luminoso que se dispersou pelo ar. Mayan sorriu para o céu, ciente de que havia tocado algo além da compreensão humana.
Com o passar dos anos, Mayan cresceu e amadureceu, mas sua ligação com a lua permaneceu inabalável. Noite após noite, ela encontrava novas formas de interagir com sua amiga celestial. Às vezes, desenhava detalhadamente as fases da lua em seu diário; outras, criava melodias suaves ao violão, inspirada pelo brilho prateado que inundava seu quarto. Em uma fria noite de inverno, Mayan decidiu realizar um pequeno ritual em homenagem à lua. Reuniu cristais que capturavam a luz lunar, flores brancas que floresciam sob seu brilho e incensos de fragrâncias etéreas. Montou um altar na varanda, colocando cada item com reverência.
Quando a lua cheia surgiu no céu, Mayan acendeu as velas do altar e fechou os olhos, sentindo a presença acolhedora da lua ao seu redor. Uma paz profunda a envolveu, como se a lua estivesse sussurrando segredos antigos em seu coração. Naquela noite, Mayan teve um sonho vívido: caminhava por um campo iluminado pela luz lunar, cercada por figuras etéreas que dançavam ao seu redor. A lua, em toda sua majestade, desceu do céu e tomou a forma de uma mulher de beleza celestial. Com um sorriso terno, a mulher-lua estendeu a mão para Mayan.
"Você sempre soube como me encontrar," disse a mulher-lua. "A magia que você sente em nosso vínculo é real, e sempre estará com você. Continue a dançar, continue a sonhar, e nunca perca a conexão com a maravilha que reside no céu noturno." Ao despertar, Mayan sentiu-se renovada e inspirada. Sua amizade com a lua não era apenas um jogo de infância, mas uma ligação profunda e espiritual que guiaria sua vida. Decidiu compartilhar essa história, escrevendo um livro sobre suas experiências e a magia da lua. Assim, a história de Mayan e sua dança com a lua continuou a iluminar vidas e corações, como os raios prateados que um dia transformaram seu quarto em um palco de sombras dançantes. A lua, com seu sorriso constante, acompanhava cada passo de Mayan, eternamente presente na jornada de sua amiga de coração aberto e alma sonhadora na Vila de Mocooca.
FIM
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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0189