*N° 0179 - A SEREIA DO LAGO ENCANTADO - SÉRIE: TEATRO POPULAR DE MAYANDEUA

 



Ato 1: A Tempestade na Mata

[Cena 1]

Narrador: Numa sinfonia de verdejantes florestas, a canoa do Grande Cacique das Terras Encantadas do Norte desliza suavemente pelas águas. A bordo, além do cacique, sua amada filha, Cunhã Poranga das Matas Encantadas, e os destemidos Guerreiros do Vento de Tupã, testemunham a majestade da natureza.

[Sons da floresta]

Cacique: (Contemplativo) A natureza é nossa mãe e mestra. Devemos honrá-la e protegê-la com todo o nosso ser.

Cunhã Poranga: (Maravilhada) Sim, pai. A mata é nossa morada e nossa fonte de vida. Devemos cuidar dela como ela cuida de nós.

[Aos poucos, o céu se transforma, nuvens escuras se aglomeram e o vento começa a rugir]

Narrador: Mas a tranquilidade é interrompida pela fúria dos elementos. Trovões retumbam, relâmpagos rasgam o céu e a chuva cai em torrentes.

[Sons da tempestade]

Cacique: (Alarmado) Tupã está furioso! Preparem-se, bravos guerreiros! Enfrentaremos esta tempestade com coragem!

Guerreiros do Vento de Tupã: (Gritando em uníssono) Tupã!

Cunhã Poranga: (Amedrontada) Pai, a tempestade é assustadora! Estou com medo.

Cacique: (Protegendo-a) Não tema, minha filha. Estamos juntos, e a proteção de Tupã nos envolve.

[Um raio feroz atinge a canoa, lançando Cunhã Poranga às águas tumultuadas do rio]

Cacique: (Desesperado) Filha! Não!


Ato 2: A Busca na Aldeia

[Cena 1]

Narrador: Dias se passaram desde a tempestade. Na aldeia das Terras Encantadas do Norte, a tristeza pairava no ar como um véu sombrio. O Grande Cacique, tomado pela dor da perda de sua filha, se recolhia em sua oca, enquanto seus guerreiros procuravam incansavelmente por Cunhã Poranga, sem sucesso.

[Música indígena melancólica]

Curupira: (Com pesar) Cunhã Poranga desapareceu... A floresta chora sua ausência.

Boitatá: (Com raiva) A fúria de Tupã a levou! A selva nunca mais será a mesma sem ela.

Narrador: Observando a tristeza que envolvia a aldeia, a Feiticeira Matinta Pereira, guardiã do conhecimento ancestral, decide intervir.

Matinta Pereira: (Determinada) A dor do Cacique é profunda. Devo ajudá-lo a encontrar sua filha. Os espíritos da floresta me guiarão.

[Cena 2]

Narrador: Com seu cajado de cipó e o manto de folhas a envolvê-la, Matinta Pereira adentra a densa mata em busca de pistas. Ela dialoga com as árvores antigas, escuta o sussurro dos ventos e se deixa guiar pela essência da terra.

Matinta Pereira: (Conversando com as árvores) Anciãs sábias, revelai-me o paradeiro da filha do Grande Cacique.

[Uma brisa suave sopra, movendo as folhas das árvores]

Matinta Pereira: (Interpretando o sinal) O vento murmura que ela está próxima da água... próximo a um lugar de encanto.


Ato 3: O Lago Encantado da Floresta

[Cena 1]

Narrador: Seguindo a orientação dos ventos, Matinta Pereira chega a um lago sereno, escondido entre os recônditos da selva. O ar vibra com uma energia mágica, e melodias encantadoras ecoam por entre as árvores.

[Sons da natureza]

Matinta Pereira: (Observando ao redor) Este lugar... é sagrado. Sinto a presença de Cunhã Poranga aqui.

[De repente, uma figura emerge das águas do lago. É Cunhã Poranga, porém, sua forma é outra. Ela exibe uma cauda de peixe resplandecente e seus olhos irradiam uma nova luz]

Cunhã Poranga: (Entoando uma canção ancestral)

Matinta Pereira: (Atônita) Cunhã Poranga? É você? Mas... o que aconteceu?

Cunhã Poranga: (Com serenidade) Matinta Pereira! Que alegria te encontrar. A tempestade me conduziu a este lago encantado. Aqui, me transformei em uma sereia.

Matinta Pereira: (Com compreensão) As águas deste lago são portadoras de magia ancestral. Sinto muito pela metamorfose, Cunhã Poranga, mas percebo que encontrou serenidade neste lugar.

Cunhã Poranga: (Com uma pitada de saudade) Sinto falta de meu pai, de minha aldeia, da selva... mas aqui, encontro paz. As águas do lago me acolheram.


Ato 4: O Reino Místico das Águas

[Cena 1]

Narrador: O lago encantado serve de portal para um reino subaquático secreto, o Reino Místico das Águas. Lá, governa a Sereia Mayara, soberana do reino, junto a seu povo de sereias e seres aquáticos.

[Música subaquática]

Sereia Mayara: (Cantando uma melodia hipnotizante)

Narrador: Matinta Pereira conduz Cunhã Poranga, agora Sereia Cunhã Poranga, até a presença de Sereia Mayara, revelando a saga da tempestade e a busca incansável do Cacique.

Sereia Mayara: (Com benevolência) Sereia Cunhã Poranga, és bem-vinda em nossas profundezas. Se desejas retornar à terra, podemos auxiliá-la. Mas se encontras felicidade aqui, podes unir-te a nós e tornar-te parte de nosso povo.

Cunhã Poranga: (Refletindo sobre sua escolha) Este lugar é magnífico... a magia do lago me encanta. Mas... sinto a falta de meu pai, de minha aldeia. Desejo que ele saiba que estou bem, que encontrei um novo lar.

Matinta Pereira: (Ponderando) Talvez exista uma solução, Cunhã Poranga. Posso utilizar minhas habilidades para criar uma ilusão. Permitir-te-ei visitar teu pai sob a forma humana, mas somente na praia de Algodoal, onde o encanto do lago se entrelaça ao encanto do mar.

Cunhã Poranga: (Cheia de esperança) Seria possível? Poderia reencontrar meu pai?

Matinta Pereira: Sim, contudo, deves agir com prudência. A ilusão durará apenas até o ocaso. Se não retornares ao Lago Encantado antes desse momento, o encantamento será rompido e não mais poderás retornar à terra.

Sereia Cunhã Poranga: (Com determinação) Assumo o risco, Matinta Pereira. Devo ver meu pai!


Ato 5: O Reencontro na Praia de Algodoal

[Cena 1]

Narrador: Orientada por Matinta Pereira, Sereia Cunhã Poranga alcança a praia de Algodoal no romper da aurora. A areia reflete os primeiros raios solares, enquanto as ondas acariciam a costa com suavidade.

[Sons do mar]

Matinta Pereira: (Realizando um encantamento) Aqui, Cunhã Poranga. Retorna à forma humana.

[Um brilho mágico envolve Sereia Cunhã Poranga, transformando-a de volta à sua aparência humana]

Cunhã Poranga: (Contemplando o mar e a praia) Que sensação maravilhosa é sentir a terra sob meus pés novamente.

Narrador: Cunhã Poranga corre em direção à aldea, o coração pulsando com a emoção do reencontro. No caminho, encontra seu pai, o Grande Cacique, que, ao vê-la, cai de joelhos, lágrimas de felicidade escorrendo pelo rosto.

Cacique: (Com a voz embargada) Filha! Você voltou!

Cunhã Poranga: (Abraçando-o) Pai! Estou aqui, segura e feliz.

Cacique: (Com gratidão) Graças a Tupã e aos espíritos da floresta! Nunca perdi a esperança de te encontrar.

Cunhã Poranga: (Com carinho) Pai, encontrei um novo lar nas águas do Lago Encantado. Mas queria que soubesse que estou bem. Matinta Pereira me ajudou a retornar por um breve instante.

Cacique: (Com compreensão) Então você deve seguir seu caminho, minha filha. A selva sempre será seu lar, mas respeito sua escolha.

Matinta Pereira: (Com um sorriso) O vínculo entre vocês é eterno, não importa onde estejam.

Narrador: Cunhã Poranga, com um sorriso de gratidão, despede-se de seu pai e retorna ao Lago Encantado antes do pôr do sol. A magia mantém sua promessa, e ela continua sua nova vida como sereia, mas com a certeza de que seu pai a ama e aceita seu destino.

[Cena final]

Narrador: A harmonia é restaurada nas Terras Encantadas do Norte, e a lenda de Cunhã Poranga, a Sereia do Lago Encantado, é contada de geração em geração, celebrando a força do amor e da conexão entre a terra e as águas.


FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0179 


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