*N° 0103 - IMPRESSOS MECÂNICOS DAS LETRAS - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA


(Direto de Mayandeua)

Impressora ligada,

Números, contas

Outros documentos diversos...

- Comem os papéis! Menos a poesia.

Na sala silenciosa, a impressora ronrona suavemente, seus rolos de papel deslizando em um ritmo constante enquanto cospem números, contas e documentos diversos. É uma sinfonia mecânica de produtividade e eficiência, onde o zumbido dos motores e o ranger das engrenagens ditam o compasso do trabalho incessante. No entanto, em meio ao frenesi organizado, algo permanece intocado: a poesia.

Os números se acumulam em pilhas ordenadas, os documentos se espalham pela mesa como montanhas de papelada meticulosamente dispostas. Ainda assim, a poesia, com sua delicadeza etérea, resiste ao apelo da lógica e da razão. Ela é um pássaro cativo que observa a agitação do mundo, sabendo que seu voo pertence a outros céus. Enquanto as máquinas devoram folhas em sua voracidade funcional, a poesia dança livre nas entrelinhas, tecendo imagens e emoções que escapam à compreensão racional. Sua essência é indomável, invisível, mas vibrante — um sussurro que ecoa nos espaços vazios entre as palavras técnicas e os cálculos precisos.

As letras oferecem um contraste vibrante ao cinza meticuloso da sala de impressão. Enquanto os documentos se multiplicam e os números ganham vida em gráficos e tabelas, as palavras poéticas se transformam em um refúgio seguro, um oásis de beleza e inspiração em um mundo dominado pela praticidade. Elas sussurram segredos de amor e dor, esperança e desespero, transportando-nos para além das limitações do tempo e do espaço. São um convite à contemplação, um momento de pausa em meio ao caos organizado das rotinas modernas.

Neste universo de produtividade, a poesia, a crônica e outras formas literárias não apenas sobrevivem, mas prosperam nas margens, onde a criatividade encontra espaço para florescer. A cada folha impressa, elas nos lembram da dualidade da existência humana: a necessidade de ordem e a busca incessante por significado. Enquanto a impressora simboliza o ritmo incansável do progresso e da modernidade, a poesia permanece como uma testemunha silenciosa e resiliente da nossa humanidade. Ela nos lembra que, por trás de cada cálculo e cada gráfico, há um ser humano com sonhos, medos e esperanças.

A poesia é a voz que resiste ao esquecimento, que ecoa suavemente em nossos corações e mentes, incentivando-nos a olhar além do óbvio, a perceber a beleza nas coisas simples e a valorizar o intangível. Ela é a essência que alimenta nossa alma, a chama que ilumina nossos pensamentos e a brisa que refresca nossa criatividade. Assim, enquanto a impressora continua seu trabalho incansável, a poesia e suas irmãs literárias permanecem incólumes e vigilantes, uma lembrança constante da importância de preservar a beleza e a magia que habitam em nós.

Em cada letra cursiva, em cada palavra escrita, a poesia nos convida a um encontro com o sublime, encorajando-nos a sonhar e a acreditar que, mesmo em um mundo dominado pela razão, sempre haverá espaço para o encantamento e a transcendência.

- Imensos Haikais! 


FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0103


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