*Nº 0816 - SAUDAÇÃO MARÍTIMA - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA
Em nenhum outro espaço, o mar desenha trilhas tão profundas quanto aquelas que se escondem nas águas de Mayandeua e Algodoal. Os vértices tocam o céu, formando uma visão marítima que desafia a compreensão humana. Nas pedras cobertas de lodo, os pássaros sedentos encontram repouso, um contraste com a agitação das ondas. A areia, em silêncio, clama por outros pés que suavizem as horas. Ela vive em uma sina vegetativa, declamando a nostalgia que os poetas conhecem tão bem. Em meio a essa insistência sentimental, surge uma compaixão que galopeia pelos pensamentos, como o vento nas marés baixas. O mar, então, transpira os duelos de outros seres, refletindo suas lutas e esperanças. O cheiro de caju nas águas traz memórias olfativas que evocam uma saudade agridoce.
Nenhum outro espaço pode acalentar um momento assim. Meus pés descalços, em liberdade, tocam outros pés, enquanto caminhamos por dunas inconstantes, guiados pelas dunas da Sereia. As miragens, com sabedoria, proclamam os segredos das águas, e os pescadores, guardiões de gerações, decifram os ventos com uma compreensão ancestral. Na imensidão contemplativa, tento apresentar minhas parábolas às ondas, buscando uma conexão com a vastidão azul. O mar suaviza os sentimentos desfeitos pelos nossos erros, oferecendo um bálsamo para as feridas da vida. Olhar o mar é ser seduzido por seus sons, é sentir a alegria do sol que se reflete nas águas ao final da tarde. É um espaço onde pensamentos indecisos encontram um lar, e ogivas de saudades se transformam em poemas, levados pelos ventos ligeiros. O homem, lento, deita-se na areia e deixa a natureza beijar seu rosto. Cantarolando versos de carimbós já esquecidos, ele se torna um com a paisagem, revivendo memórias de uma cultura rica e pulsante.
Das profundezas do eu nestas águas marítimas, as dores são dilaceradas, forçando-nos a relembrar dos versos esquecidos, aqueles que as cidades monstruosas tentaram suprimir. Nesta paisagem, os pássaros traçam suas rotas, guiados por necessidades que os homens cobiçam. Ah, se pudessem voar com a liberdade das asas! No horizonte, saudades de muitos se misturam com a derradeira luz do poente, anunciando seu destino. O horizonte guarda a silhueta de um barco que se aproxima, um símbolo de chegada e partida, de encontros e despedidas. É um momento de reflexão, onde o mar, silencioso e imponente, guarda todos os segredos e saudades, embalando nossos pensamentos na dança eterna das ondas.
E assim, na saudação ao mar, encontramos a essência do nosso ser, refletida na imensidão azul. A cada chegada, uma nova história se desenha, um novo verso se escreve nas águas, perpetuando o ciclo infinito da vida e do mar. Na proa do tempo, os donos do mar saúdam a vitória de muitos, reconhecendo a bravura e a resiliência que as águas moldam em todos que ousam navegar por seus mistérios. O mar de Mayandeua e Algodoal, com seu cheiro de caju e suas dunas místicas, torna-se o cenário perfeito para essas reflexões. E assim, na saudação marítima, revivemos a história, a cultura e as emoções que apenas o oceano pode proporcionar.
- Saudação Natural!
- Assim Primolius sauda os novos marinheiros das ilhas...
- E são muitos!
FIM
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Projeto Musical e Literário Primolius N° 0816