Nº 0804 - BACURIZEIROS DE CAMBOINHA - CRÔNICA



Entre os manguezais, sob o manto da chuva de março e os sussurros do vento, duas jovens árvores de bacurizeiro foram plantadas com esperança e cuidado. Contudo, a natureza, com sua imprevisibilidade, trouxe consigo a fúria das águas e o ímpeto das marés, levando embora os pequenos seres que começavam a se erguer na vida. Eles, que talvez este ano dessem suas primeiras flores, foram subitamente levados, deixando para trás uma sensação de perda e uma pontada de questionamento sobre os desígnios do universo.

É dito entre os sussurros da floresta que quando algo assim acontece, é porque essas criaturas estavam destinadas a alçar voo rumo ao céu dos bacurizeiros, onde suas raízes se entrelaçam com os sonhos e esperanças daqueles que as plantaram. Uma preguiça, sábia em sua lentidão, compartilhou com Primolius, que as águas grandes, apesar de levarem consigo os frutos da terra, também trazem consigo uma renovação, uma limpeza que purifica e prepara o terreno para novas sementes e novos começos.

Assim, entre os ciclos da vida e da natureza, aprendemos a aceitar o fluxo das águas e a dança do vento, pois mesmo nas perdas mais dolorosas, há uma sabedoria ancestral que nos conforta, nos lembrando que, assim como as árvores caem, também se erguem novamente, alimentando a esperança e a resiliência que nos fazem crescer, mesmo diante das adversidades mais inesperadas.

Com a determinação que só a natureza é capaz de inspirar, no meio do ano, irei novamente plantar os amarelinhos de ouro, alimentando a terra com esperança e renovando a promessa de vida que brota do solo. Em meio às incertezas do destino, persistirei, confiante de que cada semente lançada à terra é um gesto de fé na continuidade da vida e na abundância que está por vir.

Enquanto as águas se acalmam e a terra se prepara para receber os novos brotos, o cenário marítimo também se transforma, trazendo consigo a promessa de fartura e generosidade dos mares. Os peixes, em sua dança fluida sob as águas, anunciam a chegada de tempos de abundância, onde as redes se enchem e os pescadores retornam para suas comunidades com os frutos do oceano.

É um espetáculo de vida que se desenrola diante de nossos olhos, uma sinfonia harmoniosa entre o homem e a natureza, onde a gratidão é expressa em cada rede cheia, em cada mesa farta. É o ciclo eterno da vida se renovando, lembrando-nos da interdependência entre todas as formas de vida e da importância de cuidarmos com reverência do mundo que nos rodeia. Assim, entre as esperanças plantadas na terra e as bênçãos dos mares, celebramos a promessa de um futuro repleto de vida e prosperidade, onde a generosidade da natureza nos ensina a viver em harmonia com ela e com nossos semelhantes.

- Viva a terra de Maya!


FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius N° 0804

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