N ° 0785 - IGUANAS & CAMALEÕES - CRÔNICA

 



Carta para arquivar na  Ilha....

Lembranças de um tempo de cidades em minha vida...

Em uma tarde de verão, enquanto percorria as movimentadas ruas da cidade, deparei-me com uma cena peculiar que despertou minha reflexão sobre a dinâmica social contemporânea. Em meio à agitação dos transeuntes apressados, um pequeno camaleão deslizava lentamente pela calçada, exibindo suas cores vibrantes em um espetáculo de adaptação e sobrevivência. O camaleão, uma criatura notável por sua habilidade camufladora de mudar de cor, parecia ser um reflexo vivo de muitas pessoas que cruzam nosso caminho diariamente. Ele se movia com uma calma intrigante, como se estivesse observando o mundo ao seu redor com olhos vigilantes, prontos para ajustar-se a qualquer cenário. 

No entanto, o que mais me chamou a atenção não foi apenas sua habilidade camaleônica, mas sim sua notável semelhança com certos indivíduos que tenho encontrado ao longo da vida. Pessoas que, assim como o camaleão, têm a habilidade de se adaptar às circunstâncias, mudando de opinião e comportamento conforme a conveniência do momento. Estas pessoas são como camaleões sociais, capazes de ajustar suas atitudes de acordo com o contexto, apresentando diferentes facetas para diferentes públicos, tal qual cidadãos astutos em uma campanha. São mestres na arte da diplomacia superficial, habilmente exibindo cores diferentes para cada interlocutor, enquanto mantêm sua essência oculta por trás de uma miragem de aceitação social.

É fascinante observar como as virtudes deste pequeno réptil ecoam as habilidades valorizadas em muitos círculos sociais. Ele é celebrado como o protegido do patronato, aquele que sabe adaptar-se aos interesses dos poderosos, e é aplaudido como o favorito, capaz de conquistar a simpatia de muitos  com sua versatilidade. No entanto, mesmo diante de tantas habilidades admiráveis, é inevitável não sentir uma pontada de desconfiança diante do camaleão humano. Assim como o réptil que se adapta às cores de seu ambiente, essas pessoas parecem perder sua essência genuína, diluindo-se em uma variedade de tons superficiais para agradar a todos, enquanto deixam uma sensação de inautenticidade no ar. (Sei!) :)

Enquanto observava o camaleão desaparecer entre as folhagens urbanas, fiquei imerso em uma profunda reflexão sobre a complexidade da natureza humana e sobre o desafio de manter nossa integridade em um mundo que frequentemente nos exige que nos conformemos às expectativas alheias. Talvez, ao invés de nos transformarmos em camaleões sociais, devêssemos buscar a coragem de sermos verdadeiramente nós mesmos, mesmo que isso signifique destacar-se em um mar de uniformidade camuflada. Pois é na autenticidade que encontramos nossa verdadeira essência e nossa conexão genuína com o mundo ao nosso redor.

Enfim... 

- Somos camaleônicos! 

- Mas devemos escolher cores quentes ou frias! 

- Ou viver entre as folhas!  

( Prefiro as iguanas) 


FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius N ° 0785

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