*Nº 0778 - O CANTO DAS GURIJÚBAS - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA

 


Nas margens do mar que se estendia até se perder de vista, em uma pequena vila de pescadores, a vida girava em torno do oceano e das dádivas que ele oferecia. As ondas incessantes moldavam não apenas a paisagem, mas também o cotidiano e a cultura daqueles que dependiam do mar para sua subsistência. A vila, com suas casinhas de madeira pintadas em cores vibrantes, respirava o ar salgado e a brisa marítima que permeava cada canto. Entre os muitos desafios enfrentados pelos hábeis pescadores, havia um em particular que testava sua destreza e coragem: a enigmática Gurijuba.

A Gurijuba, um peixe de proporções imponentes com sua pele prateada cintilante, apresentava uma série de ferrões envenenados em suas costas e laterais, transformando-a em uma presa perigosa e respeitada. Dizia-se que, em suas profundezas, a Gurijuba guardava segredos antigos, como um baú de tesouros enterrado sob as ondas. Os mais velhos da vila contavam histórias fantásticas sobre a Gurijuba, afirmando que ela era capaz de prever mudanças repentinas no clima ou de guiar os pescadores para os melhores pontos de pesca, como um farol vivo nas águas turvas.

Em tempos antigos, conta-se que uma Gurijuba especial apareceu nas águas do Furo Velho, um trecho de mar conhecido por suas correntes traiçoeiras. Os pescadores juravam que dentro dela havia ouro reluzente, e que ela tinha visitado os tesouros da princesa perdida nas profundezas do oceano. Essa história, alimentava a imaginação da vila, despertando o desejo ardente de desvendar os segredos ocultos sob as ondas. Para muitos, a captura dessa Gurijuba mítica era mais que um desafio; era uma missão carregada de honra e misticismo. A preparação das redes para a pesca da Gurijuba exigia uma meticulosidade quase ritualística. Feitas com fios quase imperceptíveis na água, as redes eram tecidas com cuidado extremo, garantindo que estivessem prontas para o desafio que viria. A pesca da Gurijuba, segundo muitos pescadores da região, dependia não apenas da habilidade técnica, mas também da paciência e da sensibilidade para compreender os ritmos do mar. Durante a noite, quando o peixe estava mais ativo, os pescadores lançavam suas redes no mar, iluminando a escuridão com lanternas suaves e ancestrais. A espera, muitas vezes longa, era permeada pelo farfalhar suave da água e pelo canto distante das aves noturnas, criando uma atmosfera de suspense e reverência.

A captura bem-sucedida de uma Gurijuba era motivo de grande celebração na vila. O cozidão de Gurijuba, preparado com ervas locais e segredos culinários, tornava-se o centro das festividades, unindo a comunidade em torno de uma conquista compartilhada. As crianças corriam pelas ruas de areia, enquanto os mais velhos narravam contos antigos sobre a relação simbiótica entre os habitantes da vila e o mar.

No entanto, dizem os mais antigos que, em noites de lua cheia, quando as águas parecem mais calmas e misteriosas, é possível ouvir um canto suave vindo das profundezas do beiradão, como se fosse a voz da própria Gurijuba. Alguns pescadores afirmam ter visto luzes brilhantes dançando sobre as ondas, sugerindo a presença de algo além da compreensão humana. Esses relatos alimentam a crença de que os segredos da Gurijuba vão além do que os olhos podem ver, lançando um véu de mistério sobre as águas daquela vila de pescadores.

A magia da Gurijuba, assim, não reside apenas em sua aparência imponente ou nos desafios que apresenta, mas também nas histórias e crenças que ela inspira. Ela é um elo entre o passado e o presente, entre o real e o imaginário, e simboliza a eterna busca dos pescadores por sabedoria, aventura e harmonia com o oceano.

- Coisas de Camboinha!


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0778



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