*Nº 0771 - LÂMPADAS DA VIDA - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA
Direto de Mayandeua....
Entre as sombras densas da noite, um balé silencioso se desenrola. As mariposas, com suas asas delicadas como veludo, flutuam em torno das lâmpadas queimadas, traçando trajetórias errantes no ar noturno. Elas dançam em um espetáculo efêmero, onde cada movimento é uma busca desesperada por uma luz que já não brilha. Suas asas, frágeis e iridescentes, tremulam como suspiros breves, ressoando a melancolia de um cenário em transição. O brilho que um dia as seduziu, atraindo-as para o calor da luz, agora se transformou em escuridão, e o mundo que antes vibrava com promessas de claridade agora está envolto na monotonia da sombra.
Essas criaturas noturnas, tão delicadas quanto efêmeras, pareciam destinadas a perseguir a luz, a encontrar significado no calor e no brilho. Mas, na ausência desse farol que outrora as guiava, restam apenas o vazio e a incerteza. Elas tateiam o ar como se procurassem uma saída de um labirinto invisível, seus corpos ligeiros desenhando linhas invisíveis na escuridão, refletindo a confusão de suas almas aladas. Cada bater de asas é um reflexo da sua busca incansável, mas agora desprovida de direção.
As lâmpadas queimadas pendem do alto, em silêncio absoluto, testemunhas inertes de uma cena que já não podem iluminar. Seus filamentos outrora incandescentes estão agora frios, sem vida, incapazes de oferecer o consolo da luz que antes irradiavam. Aquilo que um dia foi um símbolo de esperança e vitalidade, transformou-se em um monumento ao esquecimento, um lembrete doloroso da passagem inexorável do tempo e da efemeridade de todas as coisas. As mariposas, presas em um ciclo de repetição, vivem na sombra do que um dia foi sua sina. Sua existência, desprovida de propósito, tornou-se uma dança sem música, uma jornada sem destino, onde suas asas cansadas se movem ao acaso, sem a orientação de uma luz salvadora.
E enquanto elas flutuam, em busca de algo que talvez nunca mais volte, o mundo ao seu redor segue seu curso indiferente. A dança do universo continua, imperturbável, enquanto as mariposas permanecem aprisionadas em suas cidades sem luzes, sombras vivas de um passado perdido. A ironia cruel da natureza se revela na beleza dessas criaturas frágeis, que, apesar de sua elegância, são consumidas pela apatia, incapazes de escapar do vazio que as rodeia.
No entanto, mesmo em meio a essa escuridão, uma pequena faísca de esperança persiste. Talvez, em algum canto do horizonte desconhecido, ainda exista uma luz aguardando para ser descoberta, um novo farol que traga de volta o sentido perdido. Esse lampejo de possibilidade, por menor que seja, guarda em si a promessa de renovação. E talvez, um dia, as mariposas encontrem essa nova luz, algo que reacenda seu espírito e as conduza novamente a um voo cheio de propósito. Pois, no fim, a esperança é o destino mais elevado de todas as almas: a busca incansável pela Luz, sempre. A Luz, que simboliza vida, direção, e, acima de tudo, redenção.
Resumo....
Mariposas,
Lâmpadas queimadas...
- Mudanças, sim!
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0771