*Nº 0770 - CHUVAS DE MAYA - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA
Na Vila de Camboinha, situada no coração de Mayandeua, a chuva era mais do que apenas uma mudança no clima; era um evento aguardado com ansiedade e celebração. À medida que as primeiras nuvens escuras se aproximavam no horizonte, as crianças abandonavam suas tarefas diárias e se preparavam para a chegada da precipitação. Era uma tarde como qualquer outra quando as primeiras gotas começaram a cair, salpicando o chão de areia e formando pequenas poças d'água. Num instante, as ruas de areia estavam repletas de crianças e adultos, todos ansiosos para se entregarem à magia da chuva de Mayandeua. Os sorrisos surgiam nos rostos antes sérios dos moradores, enquanto se entregavam às brincadeiras. Os mais jovens pulavam de poça em poça, rindo alto e se molhando até os ossos, enquanto os mais velhos observavam com nostalgia nos olhos, relembrando os dias em que também corriam descalços pela chuva.
As cores vivas das roupas das crianças contrastavam com o cinza do céu carregado de nuvens, criando um espetáculo visual único. O som dos pingos de chuva batendo nos telhados das casas se mesclava com as risadas e gritos de alegria, ecoando pelas ruas estreitas da vila. Os pingos dançavam nas folhas das mangueiras, gerando um brilho esmeralda que parecia cintilar sob a luz cinzenta do céu. Os pássaros, geralmente escondidos durante a chuva, se juntavam à celebração com seus cantos melodiosos, completando a sinfonia da natureza. Até os animais silvestres, como as iguanas e os pequenos roedores, se aventuravam para fora de seus esconderijos, atraídos pela energia vibrante que a chuva trazia.
Para muitos moradores, a chuva representava mais do que diversão. Era também um sinal de renovação. As plantações se refrescavam, os rios enchiam-se novamente e a terra se tornava mais fértil, prometendo boas colheitas. As donas de casa abriam as janelas para deixar o ar fresco entrar, espalhando um aroma terroso e limpo pelas pequenas habitações. Os mais velhos, com suas sabedorias acumuladas ao longo dos anos, compartilhavam histórias de tempos antigos em que a chuva salvou colheitas e trouxe prosperidade à vila. Essas histórias passavam de geração em geração, fortalecendo o vínculo da comunidade com a natureza e reforçando a importância da gratidão e da celebração.
Os pescadores, cujas vidas dependiam do ritmo das marés e das estações, viam na chuva um presságio positivo. Eles acreditavam que a abundância de água doce atraía peixes e outros frutos do mar, garantindo sustento para suas famílias. Assim, após a chuva, partiam em seus barcos simples mas robustos, confiantes de que a generosidade da natureza lhes traria boas pescas. Mesmo após o céu clarear e a chuva se tornar apenas uma lembrança úmida, a sensação de renovação permanecia. As crianças, exaustas mas felizes, voltavam para suas casas com a promessa de uma boa noite de sono, enquanto os adultos se reuniam para compartilhar uma refeição quente, aquecendo seus corpos e almas.
Naquela noite, a vila adormeceu sob um céu limpo, com estrelas brilhando como pequenas tochas de esperança. Os corações dos moradores, rejuvenescidos pela celebração e pela água que caíra do céu, estavam em paz. Eles sabiam que, em Camboinha, a chuva era muito mais que um fenômeno meteorológico. Era um presente, um lembrete de que, mesmo nos dias mais sombrios, sempre haveria motivos para sorrir e celebrar a vida em sua simplicidade e beleza. E assim, a Vila de Camboinha continuava a viver em harmonia com a natureza, onde cada chuva era aguardada com a mesma expectativa e alegria, perpetuando uma tradição que fortalecia a comunidade e renovava a alma de cada um de seus habitantes.
"Camboinha transbordava alegria!"
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0770