*Nº 0767 - RESPIRAÇÃO DE MARÉ - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA

 


Em uma vila nos arredores de Mayandeua, vivia Jykoas, um pescador de alma sábia e olhar perspicaz, cujas mãos calejadas pela pesca carregavam os segredos daquele mar repleto de mistérios. Sua filha, Mykyas, herdara sua paixão pelo oceano. Enquanto lançavam suas redes ao mar sob o céu matutino, pai e filha trocavam olhares cúmplices, comunicando-se com poucas palavras. "Pai, hoje o mar parece sussurrar segredos antigos", disse Mykyas, seus dedos ágeis trabalhando nas malhas da rede. Jykoas direcionou um sorriso aos lábios. "É o espírito de Maya, filha. Ela nos guia, nos protege e nos abençoa, juntamente com o 'Pai Velho". Enquanto o sol envolvia a ilha próximo ao Reino dos Baiacús, quase na entrada do Igarapé do Mamede, os pescadores enfim retornavam ao beiradão, carregando consigo dezenas de peixes. O aroma salgado e fresco pairava no ar, misturando-se com o riso e as vozes animadas da vila, que celebravam a abundância concedida naquele dia pelas águas da ilha.

À medida que a noite chegava, Jykoas e Mykyas observavam as marés atingirem seu ápice, como o próprio coração de Mayandeua pulsando em sincronia com a vida na ilha. "Olhe, pai, como as águas dançam ao som da melodia do universo", murmurou Mykyas, seus olhos fixos no horizonte. Jykoas novamente sorriu, orgulhoso da conexão profunda que sua filha tinha com a natureza que os rodeava. "Sim, minha querida, é o eterno carimbó da vida, uma dança que nos une a todos, desde os primeiros murmúrios do tempo e dos ciclos das marés."

No entanto, a vida em Mayandeua era mais do que pescarias abundantes e celebrações. A ilha era um mosaico de histórias e lendas, um lugar onde o tempo parecia fluir de maneira diferente. Cada onda que se quebrava na praia carregava consigo fragmentos de antigas narrativas, e cada pescador era, de certa forma, um guardião dessas histórias. Jykoas e Mykyas, com sua ligação especial com o mar, eram especialmente sensíveis a esses murmúrios. Um dia, enquanto pescavam, Mykyas notou algo diferente nas águas. Uma luz suave e brilhante emanava do fundo do mar, iluminando a superfície de maneira mágica. "Pai, você vê isso?" perguntou ela, apontando para a luz. Jykoas, com seus olhos experientes, reconheceu o brilho. "É um sinal da princesa de Mayandeua", disse ele. "Ela nos chama para uma nova missão."

Guiados pela luz, pai e filha navegaram até um furo distante, onde encontraram uma pedra dourada, diferente de qualquer outra que já haviam visto. "Esta pedra é um presente", disse Jykoas. "Ela nos dará forças e sabedoria para enfrentar o futuro." Mykyas segurou o artefato com reverência, sentindo o poder que emanava dele. Os dias que se seguiram foram de descobertas e desafios. Jykoas ensinou a Mykyas tudo o que sabia sobre o mar e a pesca, mas também sobre a importância de respeitar e proteger a natureza. Juntos, enfrentaram tempestades e momentos de calmaria, sempre com a pedra dourada como guia. 

Finalmente, Jykoas percebeu que seu tempo estava chegando ao fim. "Mykyas, minha querida", disse ele um dia, "o 'Pai Velho' está me chamando para o grande mar flutuante. Mas sei que você está pronta para continuar nosso legado. Mayandeua precisa de você." Com lágrimas nos olhos, Mykyas prometeu honrar a memória de seu pai e continuar a cuidar do mar e da vila. A última pescaria de Jykoas foi um momento de grande reflexão. Ele sabia que estava deixando sua filha em boas mãos, cercada pela sabedoria e pela proteção dos espíritos de Mayandeua. Quando o sol se pôs naquele dia, Jykoas fechou os olhos pela última vez, sabendo que sua missão estava completa.

Mykyas, agora sozinha, mas cheia de determinação, continuou a tradição de sua família. Ela se tornou uma líder respeitada na vila, sempre guiada pelos ensinamentos de seu pai e pela luz da pedra. Sob sua liderança, a vila prosperou, e a conexão entre os habitantes e o mar se fortaleceu ainda mais. As histórias de Jykoas e Mykyas se tornaram conhecidas. A pedra dourada, agora um símbolo, foi passada para os descendentes, lembrando a todos da importância de honrar o mar e a natureza. E assim, a melodia eterna de Mayandeua continuou a tocar, unindo o passado, o presente e o futuro em uma harmonia perfeita. 

- E então, a cigarra, com sua voz melodiosa, concluiu a narrativa para Primolius, o atento ouvinte, prometendo que a aventura de Jykoas e Mykyas ainda tinha muitos capítulos a serem vividos e contados nas conversas de embarcações daquela ilha encantada. 


FIM

Copyright de Britto, 2022

Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0767

Mensagens populares